sexta-feira, 13 de maio de 2016

[EXCLUSIVO] Entrevista com Will Stape, autor de "Star Trek Sex: Analyzing the Most Sexually Charged Episodes of the Original Series"


Will Stape é norte-americano e vive desde os 10 anos de idade em Bayonne, New Jersey, seu estado natal. Jornalista e escritor, Stape já contribuiu por duas vezes com histórias para Star Trek. Enquanto cursava o primeiro ano da faculdade, Stape se tornou um dos vários escritores freelance a vender scripts para TNG. 

O seu primeiro trabalho na franquia foi com uma história chamada "Shadowdance", envolvendo Worf e seu irmão adotivo Nikolai Rozhenko. Esta história se transformaria no episódio "Homeward", da sétima temporada de Next Generation, com a participação do ator Paul Sorvino (Goodfellas). Um ano depois, ele vendeu outro roteiro, desta vez para DS9. A história se chamava "Charity" e era centrada em Quark,  tornando-se o episódio "Prophet motive", da terceira temporada da série. 

Em dezembro do ano passado, Stape lançou o livro "Star Trek Sex: Analyzing the Most Sexually Charged Episodes of the Original Series", ainda sem tradução para o português, e que pode ser comprado na Amazon, na versão para kindle ou impressa, clicando aqui

Neste trabalho, Stape - que é trekker desde os quatro anos de idade - analisa os episódios com a maior carga sexual de TOS. Sem dúvida, uma abordagem inédita da série, tratando de um tema que interessa a todo mundo. 

Confira abaixo a entrevista que o blog fez com o autor, onde este fala, dentre outras coisas, sobre os novos filmes, a expectativa com a nova série, sobre a emoção de ter escrito para Star Trek e, claro, sobre seu livro.

Em primeiro lugar quero dizer que é uma grande honra para o blog você ter gentilmente aceitado o convite para esta entrevista. Então, gostaria de pedir que você explicasse para os trekkers brasileiros o seguinte: qual a importância do seu livro e qual a contribuição que ele dá para o universo de Star Trek?

É uma honra compartilhar meus pensamentos com seus leitores. Eu amo Star Trek. Eu sou, primeiro e acima de tudo, um fã, e esse fato nunca vai mudar. Obrigado pela oportunidade de conversar, Edoo!

Embora muito tenha sido escrito sobre Star Trek, em tantos livros, o elemento muito humano da sexualidade tem sido pouco examinado. Isto é o que eu exploro em meu livro, Star Trek Sex. Eu levo o leitor a uma aventura sexual arejada e divertida, usando os episódios da série original como pano de fundo para analisar o quão sexual as histórias podem ser.

Estamos familiarizados com as noções lúdicas, e até mesmo engraçadas, do capitão Kirk ser um homem romântico; ele é o Lothario, em termos de hoje nós o chamaríamos de "pegador". Tudo bem, mas é um exagero. É verdade, Kirk se envolve em aventuras românticas, contudo, o resto da tripulação também. Não apenas isso, há uma sexualidade maravilhosa que permeou todo o show.

Isso me lembra a brincadeira de Austin Powers, paródia de espião. Mike Meyers pegou a década de 1960 - uma época em que sexo e sexualidade foram, finalmente, discutidos em termos muito mais abertos - e usou isso como diversão, um ponto focal em seus filmes de comédia. Eu vejo o Star Trek original como uma espécie de brincadeira genuína de Austin Powers - onde a sexualidade não estava escondida, mas celebrada. 

Você acha que na nova série o sexo terá uma abordagem mais aberta, tratando de forma natural a homossexualidade, por exemplo?

Espero que o novo show inclua o espectro completo da sexualidade.

Perguntamos, ao longo de todos os shows de Trek: Por que não há gays ou lésbicas como personagens regulares? Por que não vemos relacionamentos gays ou lésbicos? Voltando à década de 1960, ou mesmo nos anos 80 e 90, esse tipo de representação de estilos de vida alternativos pode ter sido uma aposta arriscada, mas hoje tudo isso mudou.

O que eu não quero ver é um personagem gay cuja sexualidade seja uma reflexão tardia ou da última moda. Eu também não estou defendendo ver lésbicas ou gays em situações excessivamente dramáticas ou controversas. Há um meio termo. O tipo de narrativa pelo qual Trek é conhecido - representar algo normal, natural ou mesmo mundano e adicionar um toque único de ficção científica foi o tipo de exploração que tornou Trek famoso. Eu penso afetuosamente em "The Host" ou "The Outcast", de TNG, como excelentes exemplos de exploração profunda em diferentes permutas sexuais.

Você gosta dos novos filmes? Aliás, neles Kirk aparece em situações sexuais mais explícitas do que em TOS, onde tudo era apenas sugerido.

Os novos filmes têm o tipo de diversão e sexualidade lúdica que TOS nutriu. Eu tenho certeza que ouvi JJ Abrams afirmando que a sexualidade da série original tinha que ser explorada e representada em seus filmes, e isso é maravilhoso.

Eu só espero que os novos filmes comecem a se conectar de forma mais narrativa - nos moldes de Wrath of Khan, Search for Spock e The Voyage Home. Agora que conhecemos melhor essas versões alternativas de Kirk, Spock, Uhura, McCoy, Sulu e Chekov, vejamos realmente alguma história com interconectividade para dar a estes novos filmes e personagens mais substância. 

"The Voyage Home" marcou os 20 anos da franquia e "First Contact" os 30, e ambos são filmes adorados pelos trekkers. Você acredita que Beyond será um filme a altura dos 50 anos de Star Trek?

Excelente pergunta!

Eu gosto do trailer. Eu sei que alguns tiveram problemas com ele, mas eu sempre tenho em mente que um trailer é apenas uma amostra. Ele pode orientar opiniões em direções que podem ser inteiramente infundadas. Pedaços do trailer são divertidos e enérgicos. Fora disso, não podemos deduzir muito mais. Seu ponto é bem colocado, porém, como um registro de 50º aniversário, vamos esperar que existam verdadeiros momentos memoráveis para a posteridade. A pungência de "The Voyage Home" e a emoção de ver o momento em que vulcanos e os seres humanos se encontram pela primeira vez em "First Contact" ressoam e permanecem com o público.

Você já criticou Rick Berman pelo seu trabalho em "Star Trek Enterprise". Quais os principais problemas que você aponta em "Enterprise" e que devem ser evitados por Bryan Fuller e sua equipe na nova série?

Por favor, me deixe ser claro. Eu admirava o talento de Rick Berman como escritor e produtor antes de eu escrever para a série, e passei a admirar ainda mais após ter meus próprios episódios produzidos. Eu só lidei com seu assistente e então supervisor de roteiro, entretanto, Rick me permitiu ter meu roteiro de Deep Space Nine lido, que foi posteriormente adquirido e transformado no episódio Prophet Motive. Equilibrar toda a franquia de Star Trek por anos - incluindo os filmes - era uma enorme responsabilidade criativa e de negócios. Qualquer um que conhece Trek sabe quanto mérito Rick trouxe para a franquia.

Meu artigo sobre Star Trek: Enterprise apenas apontou, no seu conjunto, que a escrita - incluindo vários arcos de história - parecia não suprir a expectativa dos fãs. A série sofreu avaliações mais baixas quando comparada com Next Generation, Deep Space Nine ou Voyager. Eu sinto que a principal razão pela qual muitos fãs pararam de assistir foi pela linha do tempo/era. Seria ter ido tão longe no passado um erro? Quem pode dizer com certeza, mas separar seus personagens de tanta narrativa estabelecida pode dar histórias mais fracas e um senso de abandonar o núcleo da sua mitologia. Por exemplo, em Star Wars, a Disney está planejando explorar o passado dos personagens em outros filmes. Filmes sobre um Han Solo jovem? Sinceramente, eles simplesmente não me animam ou me interessam.

Eu adoro o trabalho do Bryan Fuller e sou um grande fã dos filmes de Star Trek do Nicholas Meyer. Seu filme Time After Time (estrelado por Malcolm McDowell) é um dos meus filmes preferidos de sci-fi de todos os tempos. Eu acho que um conselho que toda equipe que escreve Trek precisa lembrar é: mantenha-se fiel ao que Star Trek é - A Aventura Humana.

Você escreveu para TNG e DS9. Como foi a experiência de escrever para Star Trek e fazer parte da história da franquia?

Quando a Paramount me ligou para dizer que queria produzir meu roteiro, eu estava completamente no chão. Eu não tinha agente. Eu tinha apresentado o meu script através de uma política de submissão aberta pelo produtor Michael Piller com o estúdio. Após o giro do meu script, eu senti que iria ganhar uma nota agradável de volta - talvez algum feedback - me dizendo obrigado, mas não, obrigado, etc. O departamento de assuntos de negócios me chamou e o executivo Dirk Vandebunt me deu a boa notícia. Eu fiquei tão empolgado e lhe perguntei se essa era uma reação comum com os outros. Ele riu e disse: "Eu chamo regularmente atores atrizes para lhes dizer que os estamos contratando para participações especiais no show, é tipo um "viva!". Eu pego muito destas reações - é uma parte legal do meu trabalho."

Não importa o que mais eu escreva ou qualquer outro show que eu me envolva no futuro, escrever para o último show criado pessoalmente por Gene Roddenberry continua a ser uma absoluta emoção. Lembro-me de Whoopi Goldberg dizendo como sua personagem Guinan foi a última a ser criada por Roddenberry, e o quão especial isso era para ela. É esse tipo de emoção que rodeia estar conectado com Next Generation. É um programa de TV com elementos muito especiais. Foi um dos melhores e mais assistidos show na "syndicated television". Isto ajudou a mudar o panorama da "syndication" - que realmente oferecia só shows de jogos ordinários ou revistas informativas até então.

Com Deep Space Nine é um outro tipo de emoção. Uma vez que DS9 embarcou por um diferente sabor de Trek, ela é frequentemente esquecida em favor de TNG ou Voyager. Aqueles que, lealmente, assistiram as aventuras do Capitão Sisko percebem como elas são únicas. A profundidade narrativa de DS9 impressiona a todos que a veem, sua tela dramática é vasta.

Eu tenho reassistido alguns episódios, e eu ainda experimento uma reação emocional tão poderosa como se fosse a primeira vez. Alguns dos meus momentos/enredos favoritos: o suicídio do clone de Weyoun para salvar Odo; a trágica morte de Dax; Odo doente com a doença dos metamorfos e seu amor por Kira; Sisko e Jake tentando fazer da estação um verdadeiro lar; Kira sentindo a tensão entre as necessidades de seu mundo natal Bajor em conflito com suas interações com a Frota Estelar; a manipulação genética do Dr. Bashir revelada, etc. Há tantas histórias incríveis, e, finalmente, nós realmente viemos a conhecer e nos preocupar com estas pessoas. Cultivar isto é um elemento especial para qualquer programa de TV.

LLAP a todos!

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Meus agradecimentos à J. Tonelotto pelo imprescindível auxílio na tradução.

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