sábado, 24 de outubro de 2015

Star Trek Beyond: imagens do futuro

No século 21 - diferentemente do que aconteceu ao longo da história das comunicações e dos produtos culturais até aqui -, o fluxo de informações a que somos submetidos diariamente é gigantesco. Toda atividade humana atual é sistematicamente registrada e compartilhada com o mundo inteiro em questão de segundos: de uma manifestação por mais direitos do outro lado do planeta - passando pelo novo cabelo de uma cantora adolescente da moda -  ao sushi que você está comendo com seus amigos.

Evidentemente, este fenômeno também acontece com o processo de realização de um filme. Hoje em dia os estúdios investem somas consideráveis na divulgação de cada etapa de suas produções; seja explorando a interatividade das mídias sociais; seja por meio de campanhas criativas, que inserem o público consumidor de maneira intensa na rotina das filmagens. Ou nada disso: apenas um “espião”, munido de um smartphone, que simplesmente faz algumas fotos e as compartilha, gerando em seguida uma verdadeira avalanche de comentários e hashtags.

Com Star Trek não poderia ser diferente. Sobretudo por haver a concepção de que os filmes de Jornada nas Estrelas, a partir do reboot de JJ Abrams em 2009 (Star Trek, 2009), devem alcançar uma fatia maior do mercado, não se restringindo a produções exclusivas para os fãs de longa data.

Em 2016, ao completar 50 anos de idade, Star Trek contará com seu 13º longa metragem. Dirigido por Justin Lin (Velozes e Furiosos) e com o título de “Star Trek Beyond”, o filme tem despertado polêmicas na internet, muitas delas por conta das várias imagens “vazadas” da produção, onde aparecem atores em ação, cenários, bastidores e novos uniformes da Frota Estelar.

Quem poderia imaginar, na longínqua década de 70, durante a produção de “Star Trek: The Motion Picture” (Robert Wise, 1979), receber fotografias em tempo real dos sets de filmagem? Talvez nem o trekker mais imaginativo e confiante no avanço das tecnologias poderia fantasiar desta maneira. Um exemplo pontual a respeito do ritmo mais lento de circulação das informações há apenas algumas décadas é o primeiro piloto de Star Trek, (The Cage, 1965). Rejeitado na década de 60, foi ao ar somente em 1988, portanto, mais de 20 anos após ter sido filmado.

Quase 50 anos depois, os tempos são outros.

A primeira imagem de Star Trek Beyond surge, rapidamente, no primeiro dia de filmagens, postada pelo próprio diretor em seu perfil no twitter, em 29/06/2015. Foi apenas um close da insígnia da Frota, no braço de algum ator ou figurante, porém o suficiente para inflamar as discussões nas redes e despertar a curiosidade dos trekkers.


Muito habilmente, Justin Lin, ao mesmo tempo em que deu uma prévia do que será o uniforme da tripulação da Enterprise no terceiro filme da nova fase, revelou o título da produção. Imediatamente a hashtag #StarTrekBeyond tomou conta do twitter e permaneceu por vários dias agitando as discussões naquela rede social.

Mas este foi só o primeiro movimento de divulgação do novo filme. Em seguida, uma campanha de caridade entrou no ar (http://www.omaze.com/pt/experiences/startrek), através de diversos vídeos que apelam para a solidariedade dos fãs, que poderão ser premiados com uma participação no 13º filme da franquia. Sem dúvida, algo sem preço para aquele que vier a ganhar, comparável, guardadas as devidas proporções, com a sensação daqueles que conseguiram colocar suas fotografias fazendo a saudação vulcana no mosaico em homenagem a Leonard Nimoy organizado recentemente por William Shatner. Uma forma que os fãs tiveram de unir para a posteridade sua história pessoal com a história de Star Trek.

Em um destes vídeos referidos acima, somos apresentados a Idris Elba (Thor, Prometheus, Avengers: Age of Ultron), que faz uma entrada épica no universo de Jornada nas Estrelas, ao dançar break na ponte da Enterprise. Elba interpretará o vilão, ainda envolto em mistério, em Star Trek Beyond.

Mas voltemos às fotos. Uma nave da Federação destruída? Esta foi a grande discussão nas redes sociais no dia 15/08/2015 com a publicação de diversas imagens que, aparentemente, mostram a tela principal de uma nave (no estilo da Federação) em meio a destroços. Veja a imagem e tire suas próprias conclusões.


Alguns dias depois outras imagens apareceram na internet e causaram sensação entre os trekkers. Desta vez foram fotografias onde Chris Pine (Kirk), Anton Yeltin (Chekov) e Simon Pegg (Scotty) aparem contracenando com uma alienígena interpretada por Sofia Boutella. O grande mérito destas imagens foi revelar na íntegra o que parece ser o novo estilo de uniforme da Frota Estelar. Além disto, provocou discussões de diversas teorias sobre a natureza da espécie alienígena interpretada por Boutella. Muitas pessoas no facebook e no twitter defenderam a tese de que se trata dos Nibirans, agora  evoluídos tecnologicamente após a influência derivada da violação da Primeira Diretriz levada a cabo por Kirk em Star Trek Into Darkness (2013). Será?



Contudo, o grande campeão de postagens de fotos que revelam os bastidores das filmagens de Star Trek Beyond tem sido Zachary Quinto, que utiliza o instagram para suas publicações. O ator, que interpreta Spock, aparentemente sente muito orgulho por levar adiante o legado deste papel e, sobretudo, nutre profundo respeito e admiração pelo intérprete original, Leonard Nimoy, como já expressou em algumas declarações.

A primeira foto publicada por Quinto, seguindo o exemplo do diretor Justin Lin, também aconteceu no seu retorno ao set de filmagens e dá destaque a sobrancelha característica dos vulcanos. Como legenda desta imagem o ator chamou Nimoy de seu “querido amigo” e pediu apoio para o documentário “For the love of Spock” que está sendo realizado por Adam Nimoy, filho de Leonard.


Após esta primeira foto, Quinto já mostrou que tem o hábito de levar um banjo para as filmagens, dizendo ser o instrumento sua “companhia constante”; postou também uma foto no camarim, fazendo testes de perucas para o personagem, na qual existe um detalhe interessante: uma pequena fotografia de Chris Pine colada ao lado do espelho; e, a mais recente publicação: uma enigmática imagem de Spock com os dedos manchados de verde (provavelmente sangue vulcano), com a sugestiva legenda: “tudo ficará bem (provavelmente)”.




Faltando pouco menos de um ano para a estreia de Star Trek Beyond (a data oficial para o lançamento nos EUA é 22/07/2016) nos resta aguardar ansiosamente as próximas imagens que antecipam o futuro e que enchem todos os trekkers de grande expectativa: o que mais vem por aí?

Este texto é uma versão ampliada daquela publicada originalmente na edição 24 da revista Tribuna Quark.

sexta-feira, 2 de outubro de 2015

Klingons: antes e depois - O caso mais bizarro da história do Império


Klingons: antes (TOS) e depois (TNG)

Quem acompanhava a série original de Star Trek (TOS) na década de 60 ficou muito surpreso, em 1979,  ao assistir a cena inicial de Star Trek: The Motion Picture. Os klingons - grandes vilões de TOS - estavam completamente diferentes. Se na série original eles não apresentavam nenhuma diferença visível em relação aos seres humanos, agora, no filme, possuíam características muito específicas que os apresentavam como uma espécie diferente, sobretudo pelas protuberantes formações ósseas em suas cabeças. 

Pois esta mudança de fisionomia dos klingons é um dos casos mais bizarros da história do Império (na ficção) e - certamente - uma das histórias mais interessantes em solução de continuidade para os roteiristas e diretores (na vida real). 

Na ficção a história toda começa no meio do século 22 quando cientistas klingons (uma raridade, logo não surpreende a besteira que fizeram!) decidem aprimorar a raça, através da modificação genética de um vírus de gripe chamado Levodian flu, muito comum nos planetas da Federação. O plano era usar o DNA deste vírus para potencializar a força e a inteligência dos klingons, a partir de amostras recolhidas de humanos aprimorados pelo Dr. Arik Soong, avô de Noonian Soong, criador de Data.

No entanto as coisas não deram muito certo e o chamado “klingon augment virus” saiu do controle, provocando milhões de mortes no Império, além de devastadores efeitos colaterais. Dentre eles o desenvolvimento de características humanas, como o medo diante de situações de morte iminente e, principalmente, o desaparecimento das formações ósseas cranianas. Podemos imaginar o golpe na identidade dos orgulhosos klingons...

No episódio Trials and tribble-actions (5x06), de Deep Space Nine, há uma brincadeira com esta situação. Na história, Sisko e seus oficiais visitam no passado a Enterprise de Kirk, durante os eventos mostrados no episódio Trouble with Tribbles (TOS - 15x02). Quando encontram alguns klingons, sem as características habituais, Dr. Bashir, Odo e Chief O’Brien se mostram muito surpresos, questionando Worf, que, visivelmente constrangido apenas responde: “Não discutimos este assunto com estrangeiros”. Bashir, no entanto, lança a hipótese: teria sido mutação genética viral?

Worf: "We do not discuss it with outsiders"

A resposta virá nos episódios da 4ª temporada de Enterprise Afliction (4x15) e Divergence (4x16), nos quais são mostrados os eventos referentes aos problemas dos klingons com o “augment virus”. 

O Império Klingon, com colaboração da Seção 31, sequestra o Dr. Phlox, para que este desenvolva uma cura para a doença. O doutor é bem sucedido, no entanto os efeitos colaterais permanecerão ainda por muitas gerações, sendo os klingons que 100 anos depois vemos em TOS, portanto no século 23, os descendentes daqueles klingons afetados pela doença que os deixava com características humanas.

Enfim, esta foi uma ótima e criativa solução, tanto na questão prática de continuidade - já que na série original não houve a concepção mais elaborada das características do klingons - quanto na narrativa, criando desta forma uma incrível história que só veio enriquecer o já fascinante Império Klingon.

Dr. Phlox e o "klingon augment virus"