quarta-feira, 25 de novembro de 2020

Saru e Giotto

 No episódio Morrer tentando, da terceira temporada de STDSC, o capitão Saru, em pleno século 32, menciona um pintor medieval, chamado Giotto di Bondone, que viveu entre os século XIII e XIV, portanto na Baixa Idade Média.

O contexto no qual Saru menciona o pintor é o da busca de novos olhares, de novas perspectivas para a reconstrução da Federação. O Almirante Vance mostra, com alguma razão, uma postura cautelosa e conservadora sobre missões exploratórias.

Então Saru, desejando que a Discovery possa sair explorando a galáxia, defende seu ponto de vista usando o exemplo de Giotto que havia revolucionado a pintura a partir de uma nova abordagem artística.

O que fica claro nesse ponto é que tanto Saru quanto Giotto são ambos questionadores e promotores de rupturas, e daí vem a admiração do kelpien pelo artista italiano.

Vamos ver melhor isso.

A IMPORTÂNCIA DE GIOTTO

Giotto foi um precursor da Renascença ao introduzir a perspectiva na pintura europeia que era, até então, bidimensional. Ou seja, as pinturas com profundidade que conhecemos hoje devem sua existência a Giotto.

Além disso, Giotto dá vida aos personagens representados. Embora continue pintando motivos religiosos, cenas bíblicas, Giotto o faz com personagens que parecem gente de verdade inclusive quando pinta os santos. Giotto representa um importante ponto de inflexão da arte ocidental. Um artista que sinalizava o fim de uma era e a chegada de uma nova. O fim de uma era de trevas e a chegada das luzes.

No século 32 de Discovery temos esse mesmo problema colocado.

COISAS EM COMUM COM SARU

Saru possui muitas coisas em comum com o pintor que admira. Assim como Giotto, Saru levava uma vida simples no campo, uma vida rural pré-determinada: passar pelo Vaharai e ser colhido pelos Bauls.

Giotto era apenas um menino que cuidava de ovelhas e gostava de desenhar e sonhava com um mundo diferente. Quando descoberto por Cimabue (o último grande pintor europeu de tradição bizantina) ele percorre uma nova trilha. Foi o seu talento e curiosidade que alteraram o rumo da sua vida camponesa.

Com Saru ocorre o mesmo. Curioso, inquieto, olhava para o céu e para o seu redor e questionava o mundinho onde vivia. Sua curiosidade o levou a descobrir como mandar um sinal para o espaço. Sinal respondido pela Frota Estelar. E assim ele se tornou o primeiro Kelpien da Frota e, como Giotto, encerrou uma era do seu povo e abriu uma nova. No século 32 descobrimos que Kaminar, o planeta de Saru já faz parte da Federação. O seu sonho foi realizado.

Em comum os dois tem essa fascinação pelo céus e pelas estrelas. Durante a vida de Giotto houve a passagem do cometa Halley, inspirando o artista na representação da Estrela de Belém na pintura Adoração dos Magos.

INCOMPREENSÃO E RECONHECIMENTO

Saru era desencorajado pelo seu pai na sua busca por conhecimento. Isso significa que Saru, me desculpem o clichê, estava à frente do seu tempo e por isso não era compreendido. A mesma coisa com Giotto.

Existem poucos registros sobre sua vida e obra mas acho que podemos afirmar com certeza que muitas pessoas devem ter estranhado o seu novo modo de pintar e até mesmo o desencorajado.

Mas isso não impediu que Giotto fosse aclamado em sua própria época, algo raro na história da pintura. Inclusive por Dante Alighieri. Saru também é reconhecido entre os seus pares como alguém notável, fora do comum. O fato de vir de um povo muito primitivo e chegar aos mais altos postos na Frota Estelar é a prova disso.

E quando pensamos nisso percebemos claramente como existem pontos de contato nas trajetórias de Giotto e de Saru e é por isso que o nosso querido kelpien admira o pintor e a sua lição de que novas perspectivas sempre serão importantes para a história.

E é por isso também que nessa nova Idade das Trevas que Saru encontra no século 32 que ele resgata a figura de Giotto, um artista que teve a capacidade de lançar um novo olhar sobre o mundo e abrir novas perspectivas.

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sábado, 17 de outubro de 2020

Livro Star Trek: Utopia e Crítica Social

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quinta-feira, 2 de julho de 2020

A Federação é comunista?


O questionamento presente no título desse texto é, frequentemente, objeto de debates entre os fãs de Star Trek ou até mesmo de ficção científica em geral. Vale lembrar que Star Trek é uma série diferente das outras produções do mesmo gênero, já que nos apresenta um futuro utópico em vez dos onipresentes futuros distópicos do nicho da ficção científica. Por isso mesmo, é natural que surjam especulações sobre a natureza dos sistemas políticos, econômicos e sociais representados pela Federação Unida de Planetas.

Afinal de contas, se a distopia é nitidamente derivada do horror e do colapso final capitalista, a utopia seria a sua antítese comunista.

Antes de procurarmos responder diretamente à pergunta-título, é necessário considerarmos que Star Trek é um produto da grande e poderosa indústria cultural estadunidense. Como tal, tem como objetivo o lucro. Tem como finalidade ser vendida no mercado interno e externo, gerando também toda uma cadeia rentável de produtos derivados, como quadrinhos, livros, roupas, colecionáveis, grandes eventos, cruzeiros etc. etc. etc. É um negócio lucrativo para os detentores da marca Star Trek e também para uma infinidade de outros empresários em todo o mundo.

É possível falar-se ainda assim de uma sociedade comunista que seria a base das atividades da Frota Estelar e portanto da maior parte dos personagens vistos na tela? É possível que, por trás de um produto típico da indústria cultural capitalista, ainda assim esteja escondida (ou nem tanto assim) uma ética comunista?

Nem tanto ao céu (ou espaço), nem tanto a terra.

Star Trek, por ser produto de uma grande empresa, sempre carregará traços maiores ou menores da sua filosofia. Mas a empresa não faz nada sozinha. Quem cria Star Trek são os trabalhadores intelectuais e os técnicos. Dentre os principais trabalhadores por trás do sucesso de Star Trek estão os roteiristas. Eles estão no centro da produção. E, como temos visto ao longo de cinco décadas, eles são em geral bastante críticos.

É a crítica social desenvolvida por gerações de roteiristas envolvidos com Star Trek que formatou a ficcional Federação Unida de Planetas e os seus valores de igualdade, liberdade, tolerância, cooperação e paz.

É a insatisfação desses roteiristas com o presente - com o ethos capitalista e imperialista - que os levou a criar, olhando para o futuro, uma das mais importantes marcas de Star Trek: a crítica ao capitalismo e o sonho de uma sociedade pós-capitalista. Ambas estão amalgamadas na Federação.

Gene Roddenberry foi o primeiro a concebê-la como uma sociedade onde os seres humanos, convivendo com diversas espécies alienígenas (representações da diversidade étnica e cultura humana) superaram as primitivas formações sociais baseadas na acumulação de riqueza. Podemos dizer que Roddenberry era um comunista? Não. Mas seu sonho aproxima-se de maneira impressionante ao comunismo. Na Federação Unida de Planetas os valores principais giram em torno da cooperação e do conhecimento. O comandante Benjamin Sisko já elucidava essa questão logo no primeiro episódio de Deep Space Nine:

A coisa mais importante a entender sobre os seres humanos é que o desconhecido define nossa existência. Estamos constantemente procurando, não apenas respostas a nossas perguntas, mas novas perguntas. Somos exploradores. Exploramos nossas vidas dia a dia , e exploramos a galáxia, tentando descobrir as fronteiras de nosso conhecimento, e é por isso que estou aqui — não para conquistá-los com armas ou ideias, mas para coexistir… e aprender (DS9, Emissary, 1993).

Além disso, a Federação se distingue por aquilo que chamaríamos dentro do movimento comunista de internacionalismo. Ou seja, a busca por uma grande união de países que têm como objetivo o bem comum da humanidade. Sem exploração entre homens e nações. “Uma terra sem amos: a Internacional”, descreve poeticamente o hino dos comunistas. Porém, o comunista sabe que o internacionalismo não é sinônimo de homogeneização cultural. Ele convive perfeitamente com as identidades nacionais, que jamais são suprimidas em benefício de um ideal abstrato de comunismo. Domenico Losurdo, apoiado em Gramsci, esclarece a questão:

O internacionalismo não tem nada a ver com o desconhecimento das peculiaridades e identidades nacionais que continuarão a subsistir muito depois da queda do capitalismo (LOSURDO, 2004, p. 121–122).

Não é isso a Federação? Mas alguns críticos, pensando nesta, que claramente apresenta formas estatais, argumentarão: “na sociedade comunista o Estado deixa de existir”.

Esta é uma visão utópica e messiânica do comunismo. Ela remete ao fim da história e de toda e qualquer contradição que adviria do mundo comunista. Com o término das contradições capitalistas novas contradições apareceram, sem dúvida menos intensas e cruéis como as atuais. Mas ainda existiriam. Há a ideia de que o Estado surge na sociedade civil e se opõe a esta, sendo, por fim, reabsorvido por essa no comunismo. Gramsci coloca em discussão a tese de extinção do Estado apontando que a própria sociedade civil é uma forma de Estado.

Além disso, é lícito pensar que com o desenvolvimento da sociedade comunista a função repressora do Estado tende a desaparecer dando lugar às funções econômicas e culturais, que percebem enorme progresso. Obviamente, alguma forma de coerção, ainda que mínima, continuará existindo.

Não é exatamente essa forma de Estado que encontramos representada na Federação Unida de Planetas? Ela não é uma associação de centenas de civilizações, com diferenças culturais consideráveis, porém unidas em um propósito de cooperação e paz? Uma reunião de povos sob a mesma bandeira, sob um governo central (Conselho da Federação) porém cada um deles mantendo sua própria língua, cultura, práticas ancestrais etc.?

Esta total liberdade cultural que vigora sob uma única bandeira pode ser verificada tanto em nível galáctico (basta pensar em vulcanos, humanos, andorianos, telaritas etc.) quanto na Terra, quando vemos Joseph Sisko com sua culinária creole ou Picard produzindo seu vinho tipicamente francês.

Ao mesmo tempo não constatamos que o Estado conhecido como Federação Unida de Planetas deixa de lado a repressão e investe na aquisição de conhecimento e no compartilhamento de suas descobertas?

Evidentemente, há o caso dos Maquis, que possuem uma causa justa, contra o imperialismo cardassiano associado momentaneamente à Federação e são reprimidos por esta última. Mas não é essa uma exceção (embora vergonhosa) e que cabe perfeitamente nas contradições que ainda não cessaram e no processo de longa duração de implementação de uma sociedade não opressiva? De qualquer forma, lembremos que a coerção, mesmo que diminuta ainda existirá, como de fato existe na Federação.

Como visto, ao perguntarmos se a Federação é uma sociedade comunista encontramos muitas dificuldades pelo caminho. Desconsiderando os fãs incapazes de compreender que, no mínimo, a Federação assume a forma de uma sociedade pós-capitalista, alguns comunistas — em geral aqueles que atacam as revoluções chinesa, vietnamita, coreana e cubana — entenderão que a resposta é não.

Afinal, para eles, não é possível o comunismo com Estado e o comunismo nacionalista, que preserva e sustenta a cultura nacional, sobretudo frente ao imperialismo.

Já para um outro tipo de comunista, a resposta poderá ser afirmativa. A Federação é uma forma de Estado que promove a igualdade e a liberdade como valores coetâneos e complementares, existindo como ente econômico, cultural e político pertencente a diversos povos associados. Embora nela ainda exista um mínimo de coerção, não há mais espaço para a opressão de classe ou contra identidades nacionais, elementos indissociáveis e indispensáveis para a construção do comunismo.

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sábado, 20 de junho de 2020

Star Trek, igualdade e a verdadeira liberdade



Recentemente, Jonathan Frakes (intérprete de William Riker) contou em um vídeo no twitter como foi o processo de sua entrada para o elenco de A Nova Geração no final dos anos 1980. Frakes participou de diversas audições, sendo as últimas delas dentro do escritório do Grande Pássaro da Galáxia em pessoa, o criador de tudo, Gene Roddenberry.

Durante uma dessas entrevistas Gene fez questão de revelar para Frakes do que se tratava Star Trek. Ele que queria que o jovem ator - prestes a entrar para aquele universo utópico - compreendesse claramente o que ele representava: um mundo sem machismo, sem racismo, sem fome, sem ganância e onde todas as crianças sabiam ler.

Os fãs de Star Trek estão cansados de saber que o mundo visto na série é exatamente assim (ou quase sempre assim). Mas vejamos isso um pouco melhor, vejamos como liberdade e igualdade se interconectam na visão de Roddenberry.

Um mundo sem machismo é um mundo onde as mulheres não estão mais aprisionadas pelo simples fato de serem mulheres. Libertam-se das correntes do patriarcado, tornando-se assim iguais aos homens. Um mundo sem racismo é um mundo onde os negros – ou qualquer não branco – não são escravizados, massacrados e marginalizados durante séculos pelo fato de possuírem a cor da pele diferente.

Já um mundo sem fome se trata de um mundo onde todos têm acesso à alimentação digna de um ser humano, não estando mais sujeitos a única liberdade concedida aos famintos que é morrer de inanição.

Um mundo sem ganância é o mundo onde as pessoas não são tornadas escravas pelo dinheiro, onde agem de maneira antiética em busca de acumular riqueza. É o mundo onde o ser humano controla as coisas e não mais é controlado por elas.

Por fim, um mundo onde todas as crianças saibam ler é um mundo onde o conhecimento está ao alcance de todos, onde existe, de fato, a liberdade de aprender, de ensinar e de crescer.

Todas essas liberdades preconizadas por Gene Roddenberry, expressas nos quase mil episódios de Star Trek ao longo de mais de 50 anos, estão profundamente ligadas à igualdade.

Quando as mulheres e os negros não mais são oprimidos, quando ninguém passa fome, quando o “ser” é mais importante que o “ter”, quando todas as crianças são alfabetizadas, aí verificamos relações sociais igualitárias sobre as quais ergue-se uma humanidade livre.

Por isso, sem igualdade não existe a verdadeira liberdade. O ser humano só pode ser efetivamente livre quando todos têm acesso às mesmas oportunidades. Qualquer coisa fora disso é a velha retórica liberal. Nesta, encontramos a defesa intransigente (porém hipócrita) da liberdade, sem revelar que, na verdade, defende somente a liberdade de propriedade, como não fariam melhor os ferengis através das suas Regras de Aquisição.

Os liberais pregam a liberdade como um valor universal, mas, por trás das aparências, surge unicamente a liberdade das classes proprietárias disporem como bem entenderem de suas propriedades, seja lá que forma elas assumam.

Na escravidão, os proprietários eram totalmente livres para usufruírem da sua propriedade que se tratava de outro ser humano escravizado. E estes proprietários eram todos liberais, como demonstra a Revolução Americana, feita por escravistas. Como demonstra a construção do Império Britânico, sobre o tráfico de escravos e tantos outros exemplos históricos. Não vemos nada disso na Federação Unida de Planetas. A liberdade dos liberais já não mais existe.

No universo de Star Trek, no sistema livre e igualitário da Federação, já não há mais a escravidão nem as outras formas de dominação que atentam contra a liberdade e a igualdade. O ser humano é livre e inserido numa sociedade justa. Marx já alertava: “O reino da liberdade só inicia onde termina a necessidade”. Em suma, todos aqueles que necessitam de reconhecimento ou que, simplesmente, não tenham o que comer, nenhum deles será livre enquanto o velho mundo persistir.

Jonathan Frakes diz que aquela reunião com Gene Roddenberry o tocou forte no fundo do coração. Deveria tocar a nós todos também. Além disso, deveria nos inspirar para a construção da verdadeira liberdade.

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sexta-feira, 5 de junho de 2020

Star Trek e política




Desde 1966, quando foi ao ar pela primeira vez, Star Trek é, essencialmente, uma série política. E não precisa ser nenhum gênio, possuir uma capacidade de interpretação semiótica espetacular ou um doutoramento em ciências cinematográficas e da TV para chegar a esta conclusão. Na verdade basta assistir, assim como quem não quer nada, alguns dos seus episódios para que esse entendimento fique claro.

Um primeiro exemplo. Com “Balance of Terror”, da série original, aprendemos que o preconceito e a intolerância não têm vez na Enterprise. Devemos lembrar que os Estados Unidos naquela época ainda eram um Estado racial, onde negros não tinham os mesmos direitos que os brancos. Em “Let That Be Your Last Battlefield" a crítica ao racismo é mais explícita, tratado de aliens com a cor da pele diferente que se odeiam.

De qualquer forma, o racismo AINDA continua vigorando e ceifando vidas por lá (e por aqui) vide o sufocamento brutal de George Floyd e o assassinato do menino Miguel Otávio.

A eugenia é tratada tanto em “Patterns of Force”, que não é apenas mais uma história de nazistas no espaço. O mesmo tema encontramos no episódio amado “Space Seed”, onde um arqui-vilão racista — favorável à eugenia — tenta tomar o controle da Enterprise.

Em “Mirror, Mirror”, encontramos a barbárie imperialista e capitalista como a completa oposição da Federação. Em “The Cloud Minders” aprendemos que a sociedade de classes é irracional. Spock sentencia: esta não é uma liderança sábia. É a luta de classes manifesta de maneira contundente.

Mas seguimos. Falamos até agora somente da série clássica. E todas as outras que vieram em seguida? Em A Nova Geração somos apresentados às diversas críticas ao fascismo, à homofobia, ao capitalismo, ao colonialismo e tantos outros temas que são… políticos. Episódios como “The Neutral Zone” e “The Drumhead” são absolutamente políticos.

DS9 pode ser considerada a mais sombria de todas as encarnações de Star Trek e até por isso mesmo, talvez, a mais política. Nela somos confrontados com o racismo, o colonialismo, o genocídio, o fanatismo religioso, as relações desiguais e predatórias entre patrões e empregados, o ensino laico etc. etc. etc.

São tantos temas, tantas reflexões políticas que a tarefa de enumerá-las é difícil. Talvez um dos 45 minutos mais brilhantes de todos os tempos já apresentados na TV mundial seja o episódio “Far Beyond the Stars”, onde Ben Sisko e Benny Russell, no passado e no presente, de conectam, sem saber mais quem é o sonho, quem é o sonhador. Porém evidenciando que a luta contra o racismo atravessa os séculos.

Os negros ainda continuam sendo massacrados, seja nos Estados Unidos, seja no Brasil, seja na África ou no Haiti, ainda vítimas de desagregação social e econômica imposta pelos europeus ao longo de cinco séculos.

Star Trek nos faz refletir sobre isso, não somente nos episódios explicitamente políticos, mas também em ideias que a circundam desde sempre, como a Diretriz Primeira, um salto civilizacional. A Federação é uma sociedade sem classes, que superou o capitalismo e que tem outros objetivos muito além da concentração de riqueza.

Em Voyager encontramos a discussão sobre a guerra, sobre a indústria cultural, sobre a assimilação borg, nada mais, nada menos, do que a assimilação imperialista que submete culturas, as hegemoniza e as coloca para trabalhar em benefício do explorador.

Em Enterprise, encontramos discussões sobre a xenofobia, sobre o racismo, sobre a intolerância. As questões de gênero também são abordadas.

Em Discovery voltamos à reflexão sobre o fascismo, que volta e meia assombra a Federação. Como disse um pensador: o fascismo é eterno. Basta a mínima instabilidade econômica, social ou política, para que ele seja conjurado novamente. A ideologia é brilhantemente abordada em “The Sound of Thunder”.

Picard nos mostra com uma crueza belíssima o que é a o ódio ao diferente. A ficção científica tem nos mostrado há décadas a discussão sobre a vida artificial, tema abordado de maneira incrível por Picard. A representação da intolerância é feita pela relação entre humanos e androides.

Por essa e outras, que me parece inconcebível um fã de Star Trek não aceitar que a série é política sim. As evidências estão aí. Nessa época em que o racismo aflora com toda força, em que o fascismo perdeu a vergonha e saiu à luz do dia, mais do que nunca é importante reforçar o caráter político de Star Trek.

A série, como um todo, sempre se posicionou sobre temas políticos e sempre do lado certo da história, ou seja, ao lado dos oprimidos e não dos opressores. Isso não é óbvio para quem assiste?

O fã também deve se posicionar, pois quem não se manifesta diante da opressão já escolheu o lado do opressor. O racismo e o fascismo devem ser destruídos, sem mais delongas. O universo de Star Trek e a utopia da Federação representam um mundo sem essas chagas, que não são fatos da natureza. Pelo contrário, são históricas e como tais são instrumentos de perpetuação das classes dominantes que podem e devem ser combatidos até a vitória final.

É por isso que eu gosto e sempre irei gostar de Star Trek. Afinal, se trata de uma série antifascista, antirracista, antimachista, anti-homofóbica e, especialmente, anticapitalista.

É a mais política das séries.
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terça-feira, 14 de abril de 2020

Filme de Star Trek: Discovery estaria em produção informa site



A tripulação do USS Discovery fará sua primeira aparição na tela grande em breve, segundo informações do site The GWW. De acordo com o que foi apurado pelo colunista Emre Kaya, a ViacomCBS está desenvolvendo um novo filme de Star Trek que terá como protagonistas os personagens de Star Trek: Discovery.

O longa será realizado pelos veteranos de Star Trek: Discovery, John Weber (Vikings e Locke & Key), Frank Siracusa (The Handmaid's Tale e Locke & Key) e Thom Pretak (Beauty and The Beast e Reign ), tendo a frente como produtores executivos Alex Kurtzman (Star Trek: Picard e Salvation), Heather Kadin (Star Trek: Picard e Salvation), Aaron Harberts (Zoey's Extraordinary Playlist e Reign) e Akiva Goldsman (Titans e Doctor Sleep).

Além disso, as informaçãos até o momento dão conta de que o filme está programado para iniciar a produção o mais rápido possível, que só não teria sido iniciada aindaO devido ao surto de COVID-19.

Embora o orçamento do filme seja desconhecido, fontes próximas à indústria informaram que o orçamento provavelmente ficará entre 60 e 80 milhões de dólares.

Outras fontes relatam que o filme poderia se tratar de um crossover entre a tripulação da Discovery e da Enterprise da Kelvin timeline. 

O filme atualmente sem título está definido para ser filmado nos novos CBS Studios e no Pinewood Studios.

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sábado, 25 de janeiro de 2020

Patrick Stewart e Brent Spiner nos bastidores de Star Trek: Picard


📸 Registro maravilhoso dos bastidores de 'Remembrance', primeiro episódio de #StarTrekPicard. A foto foi feita pela diretora Hanelle Culpepper.

Como é bom ver a grande amizade de Picard e Data novamente na tela.

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Hanelle Culpepper faz história em Star Trek: Picard


















🎥 Hanelle Culpepper dirigindo Patrick Stewart no primeiro episódio de #StarTrekPicard.


Culpepper fez história ao se tornar a primeira mulher a dirigir um episódio de estreia de Star Trek. Além disso, é uma mulher negra, o que torna o fato ainda mais importante.

Parabéns à diretora, pelo marco histórico e pelo trabalho impecável feito no episódio.

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terça-feira, 21 de janeiro de 2020

Canal Apenas um Trekker completa um ano



Hoje o canal Apenas um Trekker completa seu primeiro aniversário. Surgido a partir deste blog, o canal apresenta vídeos sobre o universo de Star Trek em geral.

segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

Os 100 anos de DeForest Kelley


📅 Hoje é dia de celebração para os trekkers! Nesse 20 de janeiro comemoramos os 100 anos de DeForest Kelley, o nosso eterno Dr. Leonard McCoy. Nascido em 20 de janeiro de 1920, na cidade de Toccoa, na Geórgia (EUA), atuou em dezenas de filmes ao longo de sua carreira. No entanto, será eternamente lembrado por interpretar o médico ranzinza que, ao lado de Kirk e Spock, forma a santíssima trindade de Star Trek. Infelizmente, Kelley não está mais entre nós, tendo falecido em 1999.

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sábado, 18 de janeiro de 2020

Lançamento do livro 'Star Trek: Utopia e Crítica Social' em Porto Alegre

📸 Alguns momentos da noite de ontem no lançamento + sessão de autógrafos do livro 'Star Trek: Utopia e Crítica Social", em Porto Alegre. Muito obrigado a todas e todos que passaram por lá e que me proporcionaram instantes inesquecíveis. Se tu ainda não tens o livro, corre lá e garante o teu: https://livrostartrek.loja2.com.br/9247624-Livro-Star-Trek-Utopia-e-Critica-Social
















Programa Folhetim aborda Star Trek e a utopia na ficção



"Folhetim aborda Star Trek e a utopia na ficção: No Folhetim dessa semana recebemos o professor e historiador Eduardo Pacheco Freitas. Conversamos com ele sobre a utopia e a crítica social em Star Trek, tema do seu lançamento mais recente. No livro, ele analisa episódios de várias séries da franquia para entender como é feito o tratamento de questões políticas sob a perspectiva futurista da ficção científica."

sexta-feira, 17 de janeiro de 2020

Entrevista no programa Radar sobre o livro 'Star Trek: Utopia e Crítica Social'





Confira minha entrevista no programa Radar no último dia 15, onde falei sobre o livro Star Trek: Utopia e Crítica Social.

Gravação do programa Folhetim, da Rádio da Universidade 1080 AM


Nesta sexta, gravei o programa Folhetim, apresentado por Pedro Palaoro e com participação de André Grassi. O papo foi sobre o livro 'Star Trek: Utopia e Crítica Social", recém lançado. O programa vai ao ar neste sábado (18) às 13:30 pelos 1080 AM ou na internet pelo site ufrgs.br/radio.

'Star Trek: Utopia e Crítica Social' nos jornais de Porto Alegre

O lançamento é nesta sexta, às 19:30, no El Pesto, em Porto Alegre.



quarta-feira, 15 de janeiro de 2020

Entrevista no programa Radar da TVE



Estarei ao vivo no programa Radar da TVE desta quarta-feira (15) falando sobre 'Star Trek: Utopia e Crítica Social". É a partir das 18h no canal 7. Você também poderá assistir online no site da TVE: http://www.tve.com.br/tve-ao-vivo/

O lançamento do livro será nesta sexta (17) no El Pesto, em Porto Alegre, confira o evento: https://www.facebook.com/events/943580689368689

O livro estará sendo vendido durante a sessão de autógrafos. 

Caso você não possa participar, é possível comprar o livro nesse link: https://livrostartrek.loja2.com.br/9247624-Livro-Star-Trek-Utopia-e-Critica-Social


domingo, 5 de janeiro de 2020

Livros com muita coisa escrita...


📚🤓 Você sabia que livros costumam ter muita coisa escrita? Não adianta tentar suavizar, sempre iremos preferir bastante conteúdo. Conheça o livro Star Trek: Utopia e Crítica Social (320 páginas com um montão de coisa escrita): https://livrostartrek.loja2.com.br/9247624-Livro-Star-Trek-Utopia-e-Critica-Social

#StarTrekUtopia