quarta-feira, 28 de novembro de 2018

Nazismo e sua representação em Star Trek, por Fernando Rodrigues Fonseca



Como professor de História e trekker, é evidente que, sempre que possível, utilizo Star Trek em minha atividade docente. Seja em exemplos diversos dados em meio as aulas, seja através de trabalhos mais específicos e elaborados como é o caso do trabalho que relato neste post. 

Tenho uma turma de 9º ano fantástica, com alunos acima da média. Esse fato por si só já facilita tremendamente o meu trabalho, por outro lado coloca um desafio ainda maior a minha frente, já que se tratam de alunos inteligentes e curiosos, que não se satisfazem com o mínimo. Querem sempre o máximo. Por isso, criei uma atividade para o conteúdo de Nazismo e 2ª Guerra Mundial envolvendo o episódio "Padrões de Força", da segunda temporada da série original. Um trabalho exigente, que busca despertar a capacidade dos alunos em interpretarem a sociedade na qual vivem, bem como problemas históricos, a partir das obras audiovisuais de ficção. Mas por que Star Trek, se existem tantas obras que tratam sobre a 2ª Guerra Mundial e o Nazismo que se passam no calor dos acontecimentos? A resposta é simples: pelos valores que Star Trek nos ensina. Além do respeito à liberdade, à diversidade, aprendemos com Star Trek a defesa intransigente da tolerância. A filosofia principal de Jornada nas Estrelas é "Infinita diversidade, em infinitas combinações". Isto é, tudo que aprendemos com a série é justamento o oposto do que o nazismo pregou e colocou em prática. Por fim, o princípio basilar da Federação: A Primeira Diretriz. Esta norma versa sobre o primeiro contato com novas civilizações. É vedada a contaminação cultural sobre sociedades que se encontrem em estágios tecnologicamente inferiores, a fim de evitar o que os europeus fizeram com as sociedades pré-colombianas, por exemplo. Pois é exatamente uma violação da Primeira Diretriz que causa os problemas que podemos acompanhar no episódio. 

 As aulas foram planejadas mais ou menos da seguinte forma:

1. Expliquei brevemente a história do antissemitismo na Europa, até atingir o estágio de "antissemitismo racista", que serviu de força motriz ao nazismo;

2. Contextualizei o ódio e a perseguição sistemática aos judeus ao longo da década de 20 e seu recrudescimento a partir da chegada dos nazistas ao poder;

3. Exibi o documentário "Arquitetura da Destruição" com o objetivo de demonstrar que o nazismo se trata (também) de uma estética, objetivando "embelezar o mundo" através do extermínio dos elementos culturais e artísticos considerados degenerados (entartete kunst), elementos estes associados diretamente aos bolcheviques e aos judeus, considerados pelos nazis "representantes étnicos da internacional comunista"; 

4. Discuti a partir deste dado, que não bastava ao nazismo eliminar a arte "bolchevique e judaica", mas era necessário eliminar fisicamente (a solução final) os criadores desta cultura, isto é, os judeus, que desta forma foram diuturnamente desumanizados pela propaganda nazista, associados perante a opinião pública através dos meios de comunicação de massa a animais, insetos e vermes. Assim surgem os campos de concentração e extermínio. 

5. Para visualizarmos estes elementos em funcionamento, propus a exibição do episódio "Padrões de Força", de Star Trek, onde há uma denúncia contundente do nazismo. Na produção em questão, de 1966 (portanto duas décadas após a liquidação do nazismo), é possível verificar a perseguição, a desumanização e as tentativas de aniquilição de um povo. Na história, nazistas e judeus; na ficção, ekoseanos e zeons. Da mesma forma, o episódio nos transmite a ideia de que qualquer tentativa de extrair algo de positivo do nazismo (o desenvolvimento econômico da Alemanha nazista, por exemplo) é uma impossibilidade. Como disse John Gill, o observador cultural da Federação que feriu a Primeira Diretriz e implantou o regime nazista no planeta Ekos, tornando-se seu fuehrer: "Até mesmo os historiadores falham em aprender história. Cometem os mesmos erros". Sem dúvida, um alerta necessário, sobretudo nestes tempos onde o fascismo volta a mostrar os dentes. Para preparar os alunos, fiz uma apresentação em power point explicando as principais características do regime nazista, destacando um dos objetivos da atividade que é desenvolver o olhar crítico sobre produções audiovisuais e mostrando personagens e filosofias de Star Trek. Complementarmente, distribuí um texto de minha autoria intitulado "Nazismo: a barbárie na civilização", construído de forma a destacar - sem relacionar diretamente - estratégias nazistas para a legitimação do holocausto presentes no episódio "Padrões de Força". 

6. Para finalizar, sugeri aos educandos que produzissem um artigo onde pudessem demonstrar que aprenderam a utilizar as produções audiovisuais como ferramentas de leitura de mundo, interpretação da realidade e problematização historiográfica. O formato do artigo vem em seções padronizadas: Título; Resumo; 1. Introdução (apresentar a intersecção dos dois temas: Nazismo e Star Trek); 2. Nazismo e perseguição aos judeus (com o objetivo de historizar-se o holocausto); 3. Realidade e ficção (com o objetivo de desenvolver a competência de leitura crítica de determinado evento histórico a partir de obra ficcional); 4. Conclusão; Referências. 

Às alunas e aos alunos (meninas dominam!) que atingiram mais do que satisfatoriamente a proposta da atividade, obtendo nota máxima, fiz o convite para que seus textos fossem publicados aqui, o que foi aceito por Fernando, HenriqueEllenJúliaLuanaSara e pelo Felipe, algo que me honra demais. Como é bom quando o professor tem esse material humano para trabalhar. São meus queridos formandos da turma 92, turma a qual me sinto extremamente orgulhoso e agraciado com o privilégio de ser seu paraninfo.

De última hora recebi mais um artigo ótimo do Fernando:

Nazismo e sua representação em Star Trek


Fernando Rodrigues Fonseca


RESUMO: O nazismo foi um movimento que fez um grande e terrível marco na história da humanidade, causando a morte de milhões de inocentes por questões raciais e irracionais, mas por que alguém teria tanto ódio apenas por diferenças? Este artigo apresentará o porquê, e também será citado o episódio 21 da segunda temporada de Star Trek, “Padrões de Força” e sua representação do nazismo.

PALAVRAS-CHAVE: Nazismo. Racismo. Star Trek.

INTRODUÇÃO

Neste artigo serão abordadas algumas questões do nazismo como, seus motivos, como foi criado, resultado, suas ideias e como foram implantadas, e como foi feita a representação dele no episódio 21 da segunda temporada de Star Trek, série norte-americana criada por Gene Roddenberry.

NAZISMO E PERSEGUIÇÃO AOS JUDEUS

Em 1926, durante sua prisão por tentativa de golpe de estado, Adolf Hitler escreveu “Mein Kampf” (Minha Luta), livro que serviu de base para a ideologia nazista. No livro, Hitler contou os princípios do nazismo, dentre eles estava o racismo e o ódio pelos judeus, a quem Hitler culpava pela crise econômica na Alemanha.

Em 1933, o nazismo chegou ao poder e, em pouco tempo, trataram de assegurar sua permanência no poder, assim se iniciou o Terceiro Reich, período do poder de Hitler, o fuhrer (líder).

Em 1935, foram instituídas as Leis de Nuremberg, leis que determinavam a segregação racial entre judeus e arianos. A partir de então, o caráter racista do regime só se intensificou, levando à perseguição e eliminação dos judeus, ciganos, homossexuais e deficientes físicos e mentais. O objetivo de Hitler ao iniciar essas perseguições era, além de vingança, criar o “novo homem ariano”. A principal responsável pelas perseguições foi a Gestapo, a polícia política nazista. Após um tempo, além da perseguição, foi posto em prática a “solução final”, que constituía no genocídio de judeus usando câmaras de gás.

No final da Segunda Guerra Mundial foi somado mais de 6 milhões de vítimas do nazismo.

REALIDADE E FICÇÃO

No episódio 21 da segunda temporada de Star Trek, a nave U.S.S. Enterprise recebe a missão de procurar John Gill, um historiador humano desaparecido da federação, que foi enviado ao planeta Ekos como observador cultural. Quando Spock e Kirk chegaram em Ekos, percebem um zeon (habitante de Zeon) sendo preso por ekoseanos usando uniformes idênticos aos da Alemanha nazista, e perceberam, por um discurso seu passando pela televisão, que Gill estava agindo como fuhrer, assim podemos identificar os zeons como judeus e ekoseanos como nazistas.

Mas por que Gill implantou o nazismo em Ekos? Seu objetivo na verdade era trazer a parte boa do nazismo para fazer a civilização prosperar mais rapidamente, mas seu vice, Melakon, trouxe o racismo, justificando qualquer problema com a presença de zeons e cria a “decisão final”, que igualmente à “solução final”, consiste no genocídio de zeons/judeus.

Após Spock e Kirk se infiltrarem disfarçados de nazistas na sala de Gill, conseguem recuperar o suficiente de sua consciência para fazer outro discurso para acabar com o nazismo e culpar Melakon. Após isso, Gill é morto por Melakon e suas últimas palavras foram “até historiadores falham em questões de história, eles repetem os mesmos erros”.

CONCLUSÃO

O nazismo foi algo horrível que marcou a história pelo genocídio de milhões de judeus e deverá ser lembrado para que nunca ocorram os mesmos erros. Obras como esse episódio de Star Trek são boas representações de como o nazismo é e foi ruim e porquê não deveria ser repetido em nenhum lugar.

BIBLIOGRAFIA

https://encyclopedia.ushmm.org/content/pt-br/article/nazi-racism

https://www.infoescola.com/historia/nazismo/

https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Star_Trek_(s%C3%A9rie_original)


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