terça-feira, 27 de novembro de 2018

Nazismo através da ficção: Como a série Star Trek pode nos ensinar por meio da ficção os males do nazismo, por Luana Soares da Silveira



Como professor de História e trekker, é evidente que, sempre que possível, utilizo Star Trek em minha atividade docente. Seja em exemplos diversos dados em meio as aulas, seja através de trabalhos mais específicos e elaborados como é o caso do trabalho que relato neste post. 

Tenho uma turma de 9º ano fantástica, com alunos acima da média. Esse fato por si só já facilita tremendamente o meu trabalho, por outro lado coloca um desafio ainda maior a minha frente, já que se tratam de alunos inteligentes e curiosos, que não se satisfazem com o mínimo. Querem sempre o máximo. Por isso, criei uma atividade para o conteúdo de Nazismo e 2ª Guerra Mundial envolvendo o episódio "Padrões de Força", da segunda temporada da série original. Um trabalho exigente, que busca despertar a capacidade dos alunos em interpretarem a sociedade na qual vivem, bem como problemas históricos, a partir das obras audiovisuais de ficção. Mas por que Star Trek, se existem tantas obras que tratam sobre a 2ª Guerra Mundial e o Nazismo que se passam no calor dos acontecimentos? A resposta é simples: pelos valores que Star Trek nos ensina. Além do respeito à liberdade, à diversidade, aprendemos com Star Trek a defesa intransigente da tolerância. A filosofia principal de Jornada nas Estrelas é "Infinita diversidade, em infinitas combinações". Isto é, tudo que aprendemos com a série é justamento o oposto do que o nazismo pregou e colocou em prática. Por fim, o princípio basilar da Federação: A Primeira Diretriz. Esta norma versa sobre o primeiro contato com novas civilizações. É vedada a contaminação cultural sobre sociedades que se encontrem em estágios tecnologicamente inferiores, a fim de evitar o que os europeus fizeram com as sociedades pré-colombianas, por exemplo. Pois é exatamente uma violação da Primeira Diretriz que causa os problemas que podemos acompanhar no episódio. 

 As aulas foram planejadas mais ou menos da seguinte forma:

1. Expliquei brevemente a história do antissemitismo na Europa, até atingir o estágio de "antissemitismo racista", que serviu de força motriz ao nazismo;

2. Contextualizei o ódio e a perseguição sistemática aos judeus ao longo da década de 20 e seu recrudescimento a partir da chegada dos nazistas ao poder;

3. Exibi o documentário "Arquitetura da Destruição" com o objetivo de demonstrar que o nazismo se trata (também) de uma estética, objetivando "embelezar o mundo" através do extermínio dos elementos culturais e artísticos considerados degenerados (entartete kunst), elementos estes associados diretamente aos bolcheviques e aos judeus, considerados pelos nazis "representantes étnicos da internacional comunista"; 

4. Discuti a partir deste dado, que não bastava ao nazismo eliminar a arte "bolchevique e judaica", mas era necessário eliminar fisicamente (a solução final) os criadores desta cultura, isto é, os judeus, que desta forma foram diuturnamente desumanizados pela propaganda nazista, associados perante a opinião pública através dos meios de comunicação de massa a animais, insetos e vermes. Assim surgem os campos de concentração e extermínio. 

5. Para visualizarmos estes elementos em funcionamento, propus a exibição do episódio "Padrões de Força", de Star Trek, onde há uma denúncia contundente do nazismo. Na produção em questão, de 1966 (portanto duas décadas após a liquidação do nazismo), é possível verificar a perseguição, a desumanização e as tentativas de aniquilição de um povo. Na história, nazistas e judeus; na ficção, ekoseanos e zeons. Da mesma forma, o episódio nos transmite a ideia de que qualquer tentativa de extrair algo de positivo do nazismo (o desenvolvimento econômico da Alemanha nazista, por exemplo) é uma impossibilidade. Como disse John Gill, o observador cultural da Federação que feriu a Primeira Diretriz e implantou o regime nazista no planeta Ekos, tornando-se seu fuehrer: "Até mesmo os historiadores falham em aprender história. Cometem os mesmos erros". Sem dúvida, um alerta necessário, sobretudo nestes tempos onde o fascismo volta a mostrar os dentes. Para preparar os alunos, fiz uma apresentação em power point explicando as principais características do regime nazista, destacando um dos objetivos da atividade que é desenvolver o olhar crítico sobre produções audiovisuais e mostrando personagens e filosofias de Star Trek. Complementarmente, distribuí um texto de minha autoria intitulado "Nazismo: a barbárie na civilização", construído de forma a destacar - sem relacionar diretamente - estratégias nazistas para a legitimação do holocausto presentes no episódio "Padrões de Força". 

6. Para finalizar, sugeri aos educandos que produzissem um artigo onde pudessem demonstrar que aprenderam a utilizar as produções audiovisuais como ferramentas de leitura de mundo, interpretação da realidade e problematização historiográfica. O formato do artigo vem em seções padronizadas: Título; Resumo; 1. Introdução (apresentar a intersecção dos dois temas: Nazismo e Star Trek); 2. Nazismo e perseguição aos judeus (com o objetivo de historizar-se o holocausto); 3. Realidade e ficção (com o objetivo de desenvolver a competência de leitura crítica de determinado evento histórico a partir de obra ficcional); 4. Conclusão; Referências. 

Às alunas e aos alunos (meninas dominam!) que atingiram mais do que satisfatoriamente a proposta da atividade, obtendo nota máxima, fiz o convite para que seus textos fossem publicados aqui, o que foi aceito por HenriqueEllenJúliaLuanaSara e pelo Felipe, algo que me honra demais. Como é bom quando o professor tem esse material humano para trabalhar. São meus queridos formandos da turma 92, turma a qual me sinto extremamente orgulhoso e agraciado com o privilégio de ser seu paraninfo.

O quinto artigo é o da Luana: 



NAZISMO ATRAVÉS DA FICÇÃO: COMO A SÉRIE STAR TREK PODE NOS ENSINAR POR MEIO DA FICÇÃO OS MALES DO NAZISMO

Luana Soares da Silveira


RESUMO: O tema desse artigo apresenta como os nazistas construíram a ideia de que os judeus eram uma raça inferior por meio da manipulação da população, e como com a implementação de um estado racial foi possível perseguir e exterminar milhões de judeus. A partir dessa ideia comparar a realidade enfrentada na Alemanha nazista com a ficção do episódio Padrões de Força, da serie americana Star Trek, através de demonstrar as suas diferenças e suas semelhanças com base nos acontecimentos vistos nesse episódio. Com base metodológica em pesquisas na internet e recolha de dados escolares foi possível concluir que não seria factível implantar um sistema nazista em nenhum lugar do universo sem que causasse uma onda de ódio e extermínio por meio de um objetivo irracional.

PALAVRAS-CHAVE: Nazismo, Ficção, Realidade, Comparação, Star Trek: Padrões de Força.

INTRODUÇÃO

Nesse trabalho será apresentado como os nazistas construíram a ideia de que os judeus eram uma raça inferior, como se deu a perseguição dos judeus pelos nazistas e mostrar a comparação de realidade e ficção desse momento histórico com o episódio da serie Star Trek, Padrões de Força. Os objetivos buscados com esse trabalho são os de mostrar o que os ideais nazistas causaram, e apontar as semelhanças e diferenças entre a realidade e a ficção. Com base metodológica em recolha de dados por meio escolar, pesquisas na internet e análise do episódio Padrões de Força da serie de TV Star Trek.

NAZISMO E PERSEGUIÇÃO AOS JUDEUS

Os nazistas construíram a ideia que os judeus eram uma raça inferior por meio de manipulação da opinião publica. As propagandas nazistas representavam os judeus como símbolos étnicos do comunismo, por meio de acusações de que os judeus teriam uma conspiração para dominar o mundo com base no livro “protocolo dos sábios de Sião”. Esse livro que foi usado para denegrir a imagem dos judeus é comprovadamente falso, reforçando a manipulação da opinião publica feita pelo governo nazista.

A ideia de associação dos judeus com o comunismo não foi o único meio do governo nazista de denegrir a imagem dos judeus. Em várias propagandas nazistas os judeus eram mostrados com características denominadas feias, como narizes e orelhas de tamanhos grandes para que suas imagens fossem associadas à de um rato. No entanto essas mesmas propagandas comparavam o judeu “feio” com um homem alemão ariano perfeito. Tudo isso tinha o único motivo, de desumanizar os judeus e tornar a raça ariana super-humana.

Com o apoio da opinião publica, medidas de eugenia e a implementação de um estado racial por meio das leis de Nuremberg introduziram a pratica de perseguição e extermínio aos judeus. Um marco dessa perseguição foi a “Noite dos Cristais” onde mais de 1000 sinagogas foram incendiadas e 7 mil estabelecimentos comerciais que eram de judeus foram destruídos ou deteriorados. A “Noite dos Cristais” ficou conhecida porque ela resultou e estilhaços de vitrines que ficaram espalhadas pelas ruas e pela morte de aproximadamente 100 judeus.

Além de terem muitos de seus direitos confiscados os judeus tiveram que passar a usar a estrela de Davi amarela com a palavra “jude” (judeu) inscrita, pregada na roupa. Na determinada solução final dos judeus, eles tiveram propriedades confiscadas e começaram a ser levados aos campos de extermínio, onde eram mortos ou participavam de experiências que tinham como proposito: facilitar a sobrevivência dos militares do eixo, testar medicamentos e tipos de tratamentos para sobreviver a doenças e ferimentos encontrados pelos militares e descobertas por meios de experiências inumanas feitas principalmente com judeus. 

O médico Werner Fischer, em Sachsenhausen fez experimentos para determinar como as diferentes “raças” reagiam a diversas doenças contagiosas. E os nazistas faziam experimentos em crianças nos campos de concentração com o objetivo de torná-las mais fortes, fazer seus olhos clarearem e terem traços aproximados ao padrão ariano.

REALIDADE E FICÇÃO

Semelhanças 

A trama do episódio da série de TV Star Trek consiste na busca por um historiador terrestre. É descoberto que ele interferiu no desenvolvimento do planeta para onde ele tinha sido designado como observador cultural, em razão dessa intervenção o planeta começa a seguir os ideais da Alemanha nazista.

No episódio é visto muitas semelhanças em relação ao planeta Ekos com a Alemanha nazista. Em Ekos os nazistas denegriam os zeons por meio do apelido de porcos e os perseguiam com o mesmo ideal nazista terrestre de que outras raças são inferiores. Essa perseguição assim como na Terra foi feita a partir de discursos de ódio, uma propaganda acessível ao povo que era as telas espalhadas pelo planeta, que se assemelha aos rádios na Alemanha e uma enorme militarização do planeta.

É possível destacar que no episódio se encontram presentes as roupas dos militares idênticas as da época da Alemanha nazista. E com base nas cenas apresentadas vemos também saudações publicas ao Fuhrer e uma adoração extrema ao Fuhrer. 

Muitas dessas semelhanças estavam expressas de uma forma bem fácil de associar a Alemanha nazista, mas estão presentes também associações mais complexas como: os zeons que se escondiam em esgotos, que remetem ao ideal nazista terrestre de associar judeus com ratos, pois o habitat principal dos ratos é no esgoto. O líder dos ekoseanos (Fuhrer) não era nativo daquele planeta, assim como Hitler não era nativo alemão.

Um dos pontos de maior destaque pessoal referente ao episódio, é a fala de isak (zeon) “Sem nós para odiar não existiria nada para mantê-los unidos”. O planeta que era fragmentado se uniu com o único proposito de odiar seres que nunca tinham feito nada que fosse prejudicial para os nativos. 

Diferenças

As diferenças que são possíveis destacar entre o episódio e os acontecimentos que ocorreram na Alemanha nazista são a inexistência dos campos de concentração, com base em que nenhum momento é mostrado no episódio algo igual ou parecido. A escala mundial nazista presente no planeta, que foi algo que não foi possível de ser alcançado pelo nazismo terrestre, pois outros países agiram contra o nazismo na terra. E os zeons não tinham nada que os caracterizava como a estrela de Davi que caracterizava os judeus.

Uma das maiores diferenças é que o nazismo representado em Ekos não teve como objetivo embelezar o planeta com base na crença da eugenia de uma raça. Mas sim em tentar pegar o desenvolvimento ocorrido na Alemanha da época do nazismo, e tentar reproduzir sem a presença de um estado racial e sem a presença de um genocídio em massa como o que aconteceu na Alemanha.

CONCLUSÃO

Concluímos que a partir dos temas abordados em relação à construção dos nazistas de que os judeus eram uma raça inferior e das formas que eles usaram para o extermínio em massa dos judeus e da comparação desses acontecimentos reais com a ficção apresentada no episódio Padrões de Força da série Star Trek. É possível apontar que o sistema nazista não daria certo em nenhum lugar do universo, pois seus ideais irão constantemente estar sujeitos à propagação de ódio e violência extrema por meio da união de um povo para odiar outro com motivos irracionais.

REFERÊNCIAS

HISTORY, Disponível em: https://seuhistory.com/noticias/10_experimentos-nazistas-super-crueis-em-seres-humanos Acesso: 24 de novembro de 2018 às 19h00min.

HOLOCAUST ENCYCLOPEDIA, Disponível em: https://encyclopedia.ushmm.org/content/pt-br/article/nazi-medical-experiments Acesso: 23 de novembro de 2018 às 19h00min.

RODRIGUEZ, Diogo, Disponível em: https://super.abril.com.br/mundo-estranho/teoria-da-conspiracao-os-protocolos-dos-sabios-de-siao/ Acesso: 23 de novembro de 2018 às 18h15min.

Um comentário: