quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

"Criar ou recriar?": Chaos on the Bridge e os primórdios de Star Trek - The Next Generation

"Chaos on the bridge"(William Shatner, 2014) inicia com uma importante questão: o que poderia dar errado com uma série reimaginada pelo seu próprio criador?


E assim William Shatner nos apresenta - pela ótica dos envolvidos no processo - um filme sobre os turbulentos anos iniciais de Star Trek - The Next Generation. Anos que para Shatner representaram grandes lutas. Não somente a luta criativa, mas a luta pelo poder.

Gene Roddenberry havia perdido o seu poder sobre Star Trek e desejava recuperá-lo. Após o primeiro longa e com uma série de pilotos não aceitos por emissoras, Gene se encontrava em um deserto. Sozinho e esquecido, precisava vender itens relacionados a Star Trek nas conevenções para sobreviver. Além disso, nesse período, Roddenberry estava com problemas devido ao uso de álcool e drogas.

No entanto, em 1986 a Paramount resolveu criar uma nova série para Star Trek. Gene Roddenberry foi chamado para conceitualizar o novo show.

Mas havia um problema: os fãs. A desconfiança - até mesmo revolta - tomou conta de todos. Como recriar uma séria com ícones imortais como Kirk, Spock e McCoy, sem estes personagens?

John De Lancie traduz bem o sentimento dos envolvidos na criação de Star Trek - The Next Generation: "Estamos tentando criar ou recriar?"

O primeiro ano certamente foi o mais problemático. A grande rotatividade de roteiristas, que eram demitidos sumariamente por Gene e a falta de estrutura para os atores marcaram a primeira temporada. Por outro lado, havia a dificuldade em se criar boas histórias, devido a determinação dada por Roddenberry de que os roteiros não poderiam conter conflitos entre os personagens principais. Algo que só irá se resolver quando ocorre a erosão de poder de Roddenberry, na passagem da segunda para a terceira temporada.

Um exemplo dado no filme é o de que Gene lia por vários dias um roteiro e depois resolvia mudá-lo completamente, alegando que possuía uma ideia melhor.

Houve ainda a saída de Denise Crosby no meio da primeira temporada, nas palavras de Patrick Stewart isto "ferrou tudo". Problema parecido aconteceu com a demissão de Gates McFadden na segunda temporada devido a problemas com o roteirista chefe Maurice Hurley. Na terceira temporada ela retornaria.

Os diversos problemas levam Ronald Moore afirmar que as duas primeiras temporadas são praticamente inassistíveis, mantidas no ar apenas pela grande base de fãs que  forneceu a audiência necessária para a série se tornar um sucesso. Por outro lado, Brannon Braga reconhece que foi durante o início que foram criados muitos elementos que permaneceram durante toda a série e lhe deram uma rosto característico, com o personagem Q, os Borgs e o holodeck.

Devido ao cada vez menor envolvimento de Gene, que se encontrava com a saúde deteriorada, Rick Berman e Michael Piller passaram a focar grande parte das histórias sobre os personagens. Este fato redirecionou The Next Generation e trouxe mais qualidade às histórias.

Moore afirma ainda que é a partir de "The Best of Both Worlds" que eles deixaram de ser os filhos bastardos da série original, passando a caminhar com suas próprias pernas.

Shatner conclui o filme dizendo que a morte de Roddenberry encerrou uma era, mas, por outro lado, deu a chance de que novos roteiristas pudessem levar a franquia por outros caminhos. Nesse aspecto, Rick Berman credenciou-se como o sucessor de Gene.

E foi assim que, após primeiros instantes bastante complicados, The Next Generation se afirmou como uma das grandes referências em todos os tempos do universo de Star Trek.

William Shatner realizou um belo filme, retratando de maneira muito interessante as disputas de poder e os problemas inerentes a uma produção artística que vai muito além do que é mostrado na tela.

3 comentários:

  1. quero muito assistir esse documentário, ate achei um arquivo torrent, mas sem legendas.,.. :/

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