segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Como Gene Roddenberry enxergaria os novos filmes de Star Trek?

A voz do Grande Pássaro da Galáxia ainda ecoa em todos os quadrantes. 

Embora morto em 1991, as ideias do criador de Jornada nas Estrelas continuam vivas, não somente em toda a obra derivada do seriado original, mas em seus escritos e entrevistas. O seu pensamento foi preservado para a posteridade.

Seria uma grande pretensão afirmar aqui o que Gene Roddenberry aprovaria ou não nos filmes da era J.J. Abrams - e nem é este meu objetivo - porém acredito ser possível buscarmos algumas pistas, a partir do seu legado.

Desde que o trailer de Star Trek Beyond foi divulgado na semana passada o diretor Justin Lin e o roteirista principal Simon Pegg já se manifestaram por diversas vezes a respeito da história que procuraram contar no filme que tem sua estreia prevista para julho de 2016. Da mesma forma, muitos elementos já puderam ser identificados no trailer, que mostra a destruição da Enterprise e uma nova espécie alienígena como a vilã do terceiro filme do reboot.

Gene Roddenberry considerava a nave Enterprise muito mais do que apenas um veículo espacial. Para ele, a Enterprise sempre foi - e sempre seria - a grande heroína de qualquer história de Jornada nas Estrelas. Quando Roddenberry criou Star Trek a nave foi planejada como a forma - sobretudo narrativa - pela qual os personagens demonstravam quem eles eram e quais os seus papéis no universo. Devido a isto, é um pouco incômodo assistirmos a mais uma destruição de Enterprise. Este fato pode revelar alguns aspectos: 1) os roteiristas não compreendem qual o papel da nave na história; 2) a necessidade de criar explosões e mostrar destruição, que sempre cativam o grande público; ou o mais provável: 3) mesmo compreendendo a centralidade da Enterprise em Star Trek o apelo que envolve sua destruição seria mais forte. Ou seja, neste ponto de Star Trek Beyond um dos "dogmas" de Roddenberry é solenemente desconsiderado.

Já em relação às espécies alienígenas do universo de Star Trek, Gene Roddenberry sempre acreditou que as histórias não deveriam necessariamente tratar dos conflitos entre humanos e klingons, ou humanos e romulanos, por exemplo. Gene considerava que, ao assumirmos a existência de milhares de outras espécies interessantes galáxia a fora, estas sem dúvida mereciam ser exploradas nas histórias de Jornada nas Estrelas. Aqui o filme acerta, pois de acordo com o diretor Justin Lin o vilão Kraal pertence a uma espécie jamais vista em Star Trek. Ponto para Pegg e Lin.

No entanto, o reboot promovido por J.J. Abrams se distancia muito daquilo que Gene Roddenberry considerava central em Star Trek: histórias que envolvessem os grandes desafios contemporâneos aos quais a humanidade se depara. Nesse aspecto tanto Star Trek (2009) e Star Trek Into Darkness (2013) deixam muito a desejar. Pelo visto até agora, Star Trek Beyond seguirá o mesmo rumo, até mesmo levando ainda mais adiante a falta de "crítica social". Existem vagas menções, sobretudo de Simon Pegg, de que o filme terá elementos caros à franquia, porém sem muitos detalhes até o momento. Contudo, podemos perceber que o filme trata de "fronteiras" e de "choque de filosofias". Se esta questão for bem trabalhada, aí sim o filme estará dentro dos requisitos considerados primordiais para se contar uma história de Jornada nas Estrelas, segundo o pensamento de Gene Roddenberry.

Por fim, uma característica que existe, sobretudo no primeiro filme de Abrams, é o espírito de "band of brothers", que era muito caro a Gene Roddenberry. Para o criador de Star Trek era este espírito de camaradagem, de irmandade, de fraternidade entre os membros da tripulação um dos aspectos que fazia o programa original ser tão amado. Para Gene, os fãs se identificavam com a afeição que os tripulantes sentiam uns pelos outros. O clima de "bromance" é evidente no filme de 2009, perdendo um pouco de força no filme de 2013. Porém, em Star Trek Beyond a ajuda mútua entre a tripulação deverá retornar com força. Segundo o que é visto no trailer, os tripulantes, após a destruição da Enterprise, encontram-se em duplas, em um planeta hostil, precisando ajudarem-se uns aos outros pela sobrevivência. Mas há a necessidade de não se cair no melodrama, pois Gene sempre afirmou categoricamente que Star Trek tratava de pessoas verossímeis. Segundo ele, pessoas nas quais pudéssemos acreditar eram o coração de boas histórias de Star Trek. 

Amados por uns, odiados por outros, podemos perceber que os filmes do reboot possuem altos e baixos em relação às premissas do Grande Pássaro da Galáxia. Há momentos de aproximação e momentos de distanciamento. Resta saber até onde Star Trek Beyond irá.




3 comentários:

  1. Concordo que alguns conceitos fugiram um pouco do que Roddenberry planejou para Star Trek como um todo, mas eu boto fé nesses reboot, simplemente por dar uma visão mais moderna e aceitavel para os novos fãs!

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    1. Eles têm um papel importante, sem eles a franquia teria desaparecido completamente, já que não há uma série há mais de dez anos. Só acredito que eles poderiam ser mais profundos, sem a busca desenfreada pelo grande público. Mas isso soa utópico nos dias de hoje, não?

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