A voz do Grande Pássaro da Galáxia ainda ecoa em todos os quadrantes.
Embora morto em 1991, as ideias do criador de Jornada nas Estrelas continuam vivas, não somente em toda a obra derivada do seriado original, mas em seus escritos e entrevistas. O seu pensamento foi preservado para a posteridade.
Seria uma grande pretensão afirmar aqui o que Gene Roddenberry aprovaria ou não nos filmes da era J.J. Abrams - e nem é este meu objetivo - porém acredito ser possível buscarmos algumas pistas, a partir do seu legado.
Desde que o trailer de Star Trek Beyond foi divulgado na semana passada o diretor Justin Lin e o roteirista principal Simon Pegg já se manifestaram por diversas vezes a respeito da história que procuraram contar no filme que tem sua estreia prevista para julho de 2016. Da mesma forma, muitos elementos já puderam ser identificados no trailer, que mostra a destruição da Enterprise e uma nova espécie alienígena como a vilã do terceiro filme do reboot.
Gene Roddenberry considerava a nave Enterprise muito mais do que apenas um veículo espacial. Para ele, a Enterprise sempre foi - e sempre seria - a grande heroína de qualquer história de Jornada nas Estrelas. Quando Roddenberry criou Star Trek a nave foi planejada como a forma - sobretudo narrativa - pela qual os personagens demonstravam quem eles eram e quais os seus papéis no universo. Devido a isto, é um pouco incômodo assistirmos a mais uma destruição de Enterprise. Este fato pode revelar alguns aspectos: 1) os roteiristas não compreendem qual o papel da nave na história; 2) a necessidade de criar explosões e mostrar destruição, que sempre cativam o grande público; ou o mais provável: 3) mesmo compreendendo a centralidade da Enterprise em Star Trek o apelo que envolve sua destruição seria mais forte. Ou seja, neste ponto de Star Trek Beyond um dos "dogmas" de Roddenberry é solenemente desconsiderado.
Já em relação às espécies alienígenas do universo de Star Trek, Gene Roddenberry sempre acreditou que as histórias não deveriam necessariamente tratar dos conflitos entre humanos e klingons, ou humanos e romulanos, por exemplo. Gene considerava que, ao assumirmos a existência de milhares de outras espécies interessantes galáxia a fora, estas sem dúvida mereciam ser exploradas nas histórias de Jornada nas Estrelas. Aqui o filme acerta, pois de acordo com o diretor Justin Lin o vilão Kraal pertence a uma espécie jamais vista em Star Trek. Ponto para Pegg e Lin.
No entanto, o reboot promovido por J.J. Abrams se distancia muito daquilo que Gene Roddenberry considerava central em Star Trek: histórias que envolvessem os grandes desafios contemporâneos aos quais a humanidade se depara. Nesse aspecto tanto Star Trek (2009) e Star Trek Into Darkness (2013) deixam muito a desejar. Pelo visto até agora, Star Trek Beyond seguirá o mesmo rumo, até mesmo levando ainda mais adiante a falta de "crítica social". Existem vagas menções, sobretudo de Simon Pegg, de que o filme terá elementos caros à franquia, porém sem muitos detalhes até o momento. Contudo, podemos perceber que o filme trata de "fronteiras" e de "choque de filosofias". Se esta questão for bem trabalhada, aí sim o filme estará dentro dos requisitos considerados primordiais para se contar uma história de Jornada nas Estrelas, segundo o pensamento de Gene Roddenberry.
Por fim, uma característica que existe, sobretudo no primeiro filme de Abrams, é o espírito de "band of brothers", que era muito caro a Gene Roddenberry. Para o criador de Star Trek era este espírito de camaradagem, de irmandade, de fraternidade entre os membros da tripulação um dos aspectos que fazia o programa original ser tão amado. Para Gene, os fãs se identificavam com a afeição que os tripulantes sentiam uns pelos outros. O clima de "bromance" é evidente no filme de 2009, perdendo um pouco de força no filme de 2013. Porém, em Star Trek Beyond a ajuda mútua entre a tripulação deverá retornar com força. Segundo o que é visto no trailer, os tripulantes, após a destruição da Enterprise, encontram-se em duplas, em um planeta hostil, precisando ajudarem-se uns aos outros pela sobrevivência. Mas há a necessidade de não se cair no melodrama, pois Gene sempre afirmou categoricamente que Star Trek tratava de pessoas verossímeis. Segundo ele, pessoas nas quais pudéssemos acreditar eram o coração de boas histórias de Star Trek.
Amados por uns, odiados por outros, podemos perceber que os filmes do reboot possuem altos e baixos em relação às premissas do Grande Pássaro da Galáxia. Há momentos de aproximação e momentos de distanciamento. Resta saber até onde Star Trek Beyond irá.
eles fizeram de um jeito
ResponderExcluirConcordo que alguns conceitos fugiram um pouco do que Roddenberry planejou para Star Trek como um todo, mas eu boto fé nesses reboot, simplemente por dar uma visão mais moderna e aceitavel para os novos fãs!
ResponderExcluirEles têm um papel importante, sem eles a franquia teria desaparecido completamente, já que não há uma série há mais de dez anos. Só acredito que eles poderiam ser mais profundos, sem a busca desenfreada pelo grande público. Mas isso soa utópico nos dias de hoje, não?
Excluir