Neste dia, há 20 anos, estreava nos EUA
Before and After (3x21, 09/04/1997), o primeiro episódio de um dos arcos mais interessantes de
Star Trek: Voyager. Alguns meses depois, em novembro, a trilogia seria completada com o episódio duplo
Year of Hell (4x08, 05/11/1997 e 4x09, 12/11/1997).
Em
Before and After, vemos Kes, no final de sua vida, sofrendo saltos temporais em direção ao passado. No entanto, na linha de tempo na qual ocorrem estas viagens no tempo, a Voyager enfrentou durante um ano os ataques do
Império Krenin, perdendo importantes tripulantes como Janeway e B'Elanna. Isto fica claro desde as cenas iniciais, quando nos deparamos com um Doutor um pouco diferente, ostentando vasta cabeleira e sendo agora conhecido como Dr. Van Gogh.
|
Doutor: com nome e cabelos |
Kes, ao mesmo tempo em que salta no tempo, perdeu sua memória quase completamente, e não lembra de ter uma filha e um neto, frutos do casamento com Tom Paris. Este relacionamento só é possível nesta linha de tempo, já que o verdadeiro amor de Paris era B'Elanna. Com a morte desta devido aos acontecimentos que serão mostrados no episódio duplo Year of Hell, da próxima temporada, surge a relação com Kes. Já Andrew, seu neto, é filho de sua filha Linnis e Harry Kim. Ao mesmo tempo, podemos acompanhar com compaixão o estágio final da vida dos
ocampas (espécie de Kes), onde ocorre rápido envelhecimento, conhecido como
Morilogium.
|
Morilogium: a fase final da vida de um ocampa |
Escrito por
Kenneth Biller, responsável por mais de 30 roteiros de Voyager, o episódio guarda semelhanças com
Parallels, de TNG, escrito por
Brannon Braga, e que mostra Worf transitando por diferentes realidades paralelas. A estrutura, na qual o personagem que se desloca (no tempo, no caso de Kes), tem consciência das alterações ao redor as quais ninguém percebe e precisa convencer os outros sobre o que está acontecendo é idêntica. Contudo, em
Before and After, a história serve de prenúncio para outros dois episódios que exploram a espécie Krenin.
|
Before and After e Parallels: estruturas semelhantes |
Apesar de podermos considerar que os três episódios formam um arco, alguns problemas podem ser apontados nisto, pois existe falta de continuidade entre o
Before and After e
Year of Hell. O motivo para Kes experimentar os saltos temporais em direção ao passado é a contaminação que sofreu durante os ataques dos Krenin com seus
torpedos cronitônicos, capazes de atravessar os escudos da nave por estarem em fluxo temporal.
|
Year of Hell: continuação de Before and After |
A partir desta descoberta, Kes trabalha com o restante da equipe da Voyager para eliminar os cronitons de seu organismo e assim deixar de viajar no tempo. Como consequência, Kes informa Janeway sobre o perigo de enfrentar os Krenin seis meses no futuro. Assim que consegue uma cura, Tuvok sugere que Kes faça um relatório explicando tudo que sabe a respeito dos Krenin. Portanto, a tripulação da Voyager, além de já conhecer a civilização Krenin também conhecia a frequência de 1,47 millissegundos dos torpedos, embora em Year of Hell ela será novamente descoberta pro Seven of Nine. Evidentemente, sempre se poderá alegar que as duas histórias transcorrem em linhas de tempo diferentes. Do ponto de vista da produção, a principal razão para estes problemas está na ausência de Kes nos episódios 2 e 3 do arco, pois a atriz Jennifer Lien havia saído de Voyager no início da quarta temporada.
|
Kes em sua jornada em direção ao nada |
Before and After é um dos melhores episódios de Voyager e traz várias questões importantes, como a discussão sobre a velhice e o fim da vida. A falta de memória de Kes, que não reconhece seus entes amados, faz referência ao mal de Alzheimer, que acomete muitas pessoas idosas. O episódio também mostra uma das mais belas cenas da história de Star Trek, quando Kes retrocede tanto no tempo que vemos o momento de seu nascimento e em seguida tornar-se um feto, algumas células, uma única célula e, por fim, o nada. Sem dúvida, um grande momento de Voyager, que completa 20 anos hoje. Que Star Trek: Discovery possa criar cenas incríveis como estas, que, literalmente, sobrevivem ao tempo.