Anton Yelchin (1989-2016) |
Certa vez, o onipotente Q afirmou para o capitão Picard que nossos conceitos de vida e morte são muito rígidos. Queria dizer com isso que vida e morte não diferem tanto assim. Nesse dia triste, em que o ator Anton Yelchin nos deixou prematuramente, não desejaríamos nada além de que Q estivesse correto. Que pudesse apenas trazer Yelchin à vida de novo, para que ele continuasse ainda por muitas décadas nos divertindo com aquele russo pitoresco chamado Chekov.
Quando a fatalidade atinge os jovens, o senso comum sempre diz que os pais não deveriam sobreviver aos filhos. Yelchin, além de deixar seus pais, desaparece antes de Walter Koenig, o Chekov original. Koenig, 50 anos depois, ainda encarna Chekov na produção feita por fãs Star Trek: Renegades. Yelchin não terá essa privilégio. Uma tristeza profunda, que parece saída da densa e melancólica literatura russa, toma conta, não somente dos fãs de Yelchin em seus outros trabalhos - e dos trekkers divididos entre os que amam e os que odeiam o reboot de Abrams -, mas de todos que choram por aqueles que - paradoxo dos paradoxos - permanecerão para sempre jovens.
O jovem Anton tinha 27. A idade amaldiçoada, que colocou um ponto final na vida de tantos e tantos artistas nas últimas décadas.
Morbidamente, sempre esperamos a notícia da morte de William Shatner, de George Takei, de Nichelle Nichols... Embora com aquela esperança de que eles estarão entre nós por muitos anos ainda, o fato é que eles são octogenários, e será natural lidar com estes falecimentos - de acordo com as leis que temos em nosso imaginário - assim como lidamos com o falecimento de Doohan, de Kelley e, especialmente, de Nimoy no ano passado. Foram perdas tristes sim, mas todos que os amaram e ainda amam ficaram com a sensação de que eles viveram longa e prosperamente, algo negado ao menino Anton Yelchin agora.
A verdade é que ficamos mal acostumados ao vermos os nossos herois - mesmo barrigudos e com os cabelos grisalhos - fazendo Star Trek ao longo de tantos anos. Privilegiados desta maneira, não podíamos esperar que a vida de um deles (logo um da novíssima geração, nascido no mesmo ano em que Star Trek V estreava nos cinemas) fosse abreviada da maneira estúpida como acabou por acontecer com Anton Yelchin. Ivan Ilitch, o célebre personagem de Tolstói, buscava o sentido da vida em uma vida sem sentido. Ontem vimos uma morte sem sentido: a morte de Anton Yelchin.
Aliás, o nome do personagem homenageia a mãe Rússia, através da referência a um de seus maiores contistas: Anton Tchekhov, que, curiosamente, tinha o mesmo prenome de Yelchin.
Aliás, o nome do personagem homenageia a mãe Rússia, através da referência a um de seus maiores contistas: Anton Tchekhov, que, curiosamente, tinha o mesmo prenome de Yelchin.
Sentiremos saudade de você como Chekov, Anton. Faltando pouco mais de um mês para a estreia de seu derradeiro filme fazendo o personagem russo da tripulação da Enterprise, é seguro afirmar que Star Trek: Beyond assumirá outros significados daqui pra frente. Além de ser, alegremente, o filme dos 50 anos, Beyond será, tristemente, o filme do ano em que o jovem Chekov morreu.
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