sábado, 5 de março de 2016

Os 25 anos de Star Trek VI: The Undiscovered Country - seu lançamento visto pela imprensa brasileira

Jornada nas Estrelas VI:
A Terra Desconhecida
Star Trek VI: The Undiscovered Country, dirigido por Nicholas Meyer, completa em 2016 seus 25 anos. Foi o último filme com o elenco original, servindo como uma despedida de Kirk, Spock, McCoy e os outros tripulantes que amamos eterna e incondicionalmente. 

É um dos grandes filmes da franquia e Meyer, recentemente confirmado como roteirista e produtor da nova série da CBS, afirmou que o showrunner Bryan Fuller tem adoração por ele, devendo a película servir como "ponto de partida" e "pedra de toque" para o novo programa. 

Nada mais animador. 

Star Trek VI é, em minha opinião, o melhor e mais bem realizado filme de Jornada nas Estrelas. Um épico shakespeareano que trata sobre política e relações diplomáticas, realizado no contexto de fim do império soviético e possuindo todas as representações que isso poderia suscitar. 

Lançado em 6 de dezembro de 1991 nos EUA, chegou no Brasil alguns meses depois, em março de 1992. O filme teve um orçamento de 27 milhões de dólares, arrecadando quase 100 milhões. Um verdadeiro sucesso, digno da despedida da tripulação original. 

Estadão: destaque para efeitos especiais
Apenas três dias após seu lançamento nos EUA, o jornal O Estado de S. Paulo publicava texto de autoria de Sonia Nolasco, intitulado "Última viagem da Enterprise", trazendo informações sobre a estreia do filme nos cinemas americanos. De acordo com a autora, os fãs 

"berraram e pularam na cadeira , quando surgiu na tela a nave espacial Enterprise, e continuaram aplaudindo tudo, até o final, que traz o adeus de cada um dos heróis da equipe" 

O lançamento se deu em meio ao frio e a neve, e os fãs fizeram fila desde as 9 horas da manhã para não perder a sessão de estreia. Em sua maioria se portaram com respeito, havendo o caso, contudo, de um adolescente mais irreverente, que disse que a série agora deveria se chamar "Geria Trek", em função da idade dos atores, informou Nolasco. É mencionada declaração de Leonard Nimoy - criador da história de Star Trek VI - de que ele havia tido a ideia quando assistia pela TV a Guerra do Golfo.

De acordo com a crítica, 

"a trama do filme envolve vários temas modernos: convivência no clima pós-guerra fria, ecologia e racismo"

A percepção da autora é positiva em relação ao filme. Elogia os  efeitos especiais, a direção de arte e a maquiagem: 

"a produção dá um show de criatividade no setor gente esquisita, que eu não gostaria de encontrar na rua à noite"

Cita o papel de Iman, então noiva de David Bowie:

"uma das mais horríveis é Iman, noiva do roqueiro, modelo, beldade negra e, no filme, prisioneira numa imitação de arquipélago gulag coberto de neve. Iman tem olhos fosforescentes cor de laranja, e pode mudar de forma como o bandido de O Exterminador do Futuro 2"

A única dúvida, naquele momento, era se o filme realmente seria o último. Caso não fosse, a jornalista ponderava que em uma próxima película não poderia haver "lutas e correrias", em função da idade do elenco. 

Estadão: melhor filme da franquia
Em 4 de março de 1992, data da estreia do filme no Brasil, o Estadão publicou critica assinada por Luiz Carlos Merten, com o título "A Enterprise decola para a última missão".

O jornalista tem a opinião que Star Trek VI é o melhor filme da franquia, tendo a direção do mesmo diretor do filme que considerava o melhor até então: Star Trek II: The Wrath of Khan. Outro filme de sucesso no perído era JFK, de Oliver Stone. Para o jornalista ambas as produções guardavam semelhanças:

"trata-se de uma conspiração contra a paz mundial, no domínio da ficção científica, não difere muito daquela que Oliver Stone propõe na sua controvertida versão do assassinato do presidente John Kennedy"

É destacado no texto ser Star Trek VI o primeiro filme a estrear após a morte do criador de Jornada, Gene Roddenberry. Igualmente, o teor emocional da produção é abordado pela crítica, já que o filme marcava o encerramento de uma fase da série, abrindo espaço para que a Nova Geração - que já atuava na TV - ganhasse as telonas também.

"No ano passado, antes que A Terra Desconhecida estreasse, Roddenberry morreu. É justificada a dedicatória que recebe na abertura do filme de Nicholas Meyer. Não apenas por sua morte, mas também pelo assumido envelhecimento do elenco da série original, A Terra Desconhecida encerra uma fase. É o que torna o filme mais bonito."
Veja: Vovôs do espaço
Também em 4 de março, a revista Veja publicou matéria intitulada "Vovôs do espaço", assinada por Mario Nery, sobre o lançamento do filme no Brasil. O tom é praticamente o mesmo da crítica publicada pelo Estadão:

"O filme que entra em cartaz nesta semana tem um sabor especial: será a despedida dos atores que envelheceram interpretando os papéis principais da série e agora partem para uma merecida aposentadoria."

A matéria traz informações sobre a renda de Star Trek VI, que estando há 11 semanas em cartaz nos EUA, já havia arrecadado 72 milhões de dólares, 10 milhões a mais que JFK, que estava há 9 semanas em exibição.

Apenas um último ponto merece ser destacado sobre esta matéria. O autor revela um certo desconhecimento, ao afirmar que o personagem McCoy havia se tornado um idoso rabugento, que implicava com Spock. Ora, quem conhece Star Trek sabe que estas sempre foram características presentes no personagem.

Em síntese, as matérias foram bastante positivas sobre o filme. Mas houve uma exceção, vinda de Porto Alegre, no jornal Correio do Povo. Em 8 de abril de 1992, saiu uma nota com o título "Besteiras estelares chegam ao seu fim", assinada por uma pessoa chamada Tuio Becker. 

Seria Tuio Becker
um klingon?
Na "crítica", o jornalista revela todo seu ódio por Star Trek, ao afirmar que felizmente este seria o último filme da franquia. Descreve Star Trek VI como

"uma xaropada sobre paz mundial e ecologia tão pouco criativa quanto a capacidade de interpretação do elenco oficial"

De acordo com Becker, o filme "só pode agradar mesmo aos trekkies mais fanáticos". Diz ainda que todos que gostam de cinema esperavam que Kirk cumprisse a promessa e se aposentasse definitivamente. 

É no mínimo estranha tamanha histeria em relação a um filme que é considerado ótimo, não só por trekkers. O autor não devia estar em um bom dia (ou talvez fosse um klingon!). Mais surpreendente ainda é o Correio do Povo permitir a publicação de texto de tão baixo nível. 

Felizmente, ao contrário das previsões do "crítico", Star Trek continua mais viva do que nunca e Kirk nunca se aposentou. Após o famigerado texto já foram lançados 6 filmes e 3 séries, com mais um filme e mais uma série vindo aí. Star Trek vai bem, obrigado. 

Star Trek VI foi o filme mais bem avaliado pela imprensa brasileira até então. Mas é sempre bom relativizarmos qualquer crítica - principalmente quando feitas por generalistas, que não conhecem muito bem a franquia. Afinal, os críticos passam e Star Trek permanece.








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