terça-feira, 1 de março de 2016

Nicholas Meyer agita Star Trek com nova entrevista: a equação entre passado e futuro

"Star Trek VI: The Undiscovered Country" (STVI), dirigido por Nicholas Meyer. é um filme eminentemente político. Trata da aproximação entre a Federação e os Klingons, com o objetivo de construir um acordo de paz. No entanto, em ambas as partes existem pessoas que desejam evitar este acordo a qualquer custo, em benefício de seus próprios interesses. O filme, produzido no início dos anos 90, carrega ainda todo o espírito das décadas de guerra fria anteriores, entre URSS e EUA, criando uma poderosa alegoria sobre as intrincadas relações políticas entre duas superpotências, representadas na película pelos klingons e pela Federação.

Com a entrevista publicada ontem, onde Meyer dá pistas impressionantes do direcionamento da nova série, algumas questões saltam aos olhos. A principal delas é quando Meyer afirma que STVI é um filme amado por Bryan Fuller e que servirá como "ponto de partida" e "pedra de toque" para a direção que a nova série irá tomar.

Em primeiro lugar, isto não significa que a série irá se desenrolar no exato período cronológico pós eventos mostrados em STVI. Pelo contrário, acredito que a fala de Meyer possui um teor mais complexo. Ao dizer que ela será um ponto de partida, Meyer possivelmente quer transmitir a ideia de que a nova produção terá uma trama mais política, com foco nos confrontos diplomáticos, políticos, culturais e militares entre duas ou mais potências. Os klingons, naturalmente, são os grandes candidatos para ocupar essa posição de antagonismo em relação à Federação, por dois motivos principais: 1) a já revelada influência de STVI sobre Bryan Fuller; 2) logo em sua primeira fala a respeito da série, Fuller evocou memórias da sua infância, que recordavam justamente uma nave... klingon!

Outro aspecto que devemos levar em consideração é o caráter literário que sempre acompanha as produções de Meyer. Star Trek VI é um épico shakespeareano, por assim dizer, não apenas pelas frequentes citações do velho bardo inglês (a começar pelo título do filme), mas pela construção complexa dos personagens, que vivem intensos e fascinantes dilemas, simultaneamente lutando pelo poder. General Chang é um dos vilões mais deliciosos e profundos de Star Trek e seu embate com Kirk um dos grandes momentos de toda a franquia.

Em minha opinião, estes são os significados principais revelados na entrevista de Fuller. O novo Star Trek apostará em personagens complexos, envolvidos em tramas políticas e em intrigas galáticas, onde não apenas como fantoches que defendem automaticamente a bandeira sob a qual vivem, atuam guiados pelos seus próprios e inconfessáveis interesses particulares ou de seus sub-grupos. 

Por outro lado, Meyer faz questão de frisar que a nova série trilhará caminhos diferentes e inovadores. Isto poderá ser algo muito bom, para uma franquia que completa 50 anos. Por mais radicais que alguns trekkers possam ser, eternamente vinculados à "visão de Gene Roddenberry", o fato é que vivemos tempos completamente diversos daqueles no qual a série original foi ao ar. A inovação e a imaginação são fundamentais para a sobrevivência de Star Trek. Obviamente, sem desconsiderar o seu legado, que é majestoso. Porém, não esqueçamos de todos os graves problemas militares e políticos pelos quais o mundo passa hoje, inclusive com uma certa retomada da guerra fria, em função do conflito na Síria. Certamente, este novo "zeitgeist" poderá estar presente na volta de Star Trek à TV.

Resta saber como esta equação - inovação + referência ao passado + espírito da época - será resolvida pelos produtores.

O tempo nos responderá. 


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