segunda-feira, 28 de março de 2016

Qual o significado do estilo de Nicholas Meyer para a nova série de Star Trek?

Traduzido do original "What Nicholas Meyer's writing means for the new Star Trek series", de Eleanor Tremeer publicado em http://moviepilot.com/posts/3833683

Estamos em uma época muito emocionante para ser fã de Star Trek, com Beyond sendo lançado em julho e uma nova série de TV estreando em 2017. As notícias para o novo show vem em migalhas, mas já podemos ter alguma ideia de como será, graças ao anúncio de Bryan Fuller como showrunner e de Nicholas Meyer como um dos principais roteiristas. A nomeação de Meyer é especialmente interessante, pois seu tempo à frente dos filmes de Star Trek foram revigorantes para a franquia, marcando o início de algumas mudanças interessantes. 

O impacto de Meyer sobre Jornada

Meyer é uma espécie de gigante de Star Trek, embora ele nunca tenha escrito para os programas de TV, ele co-escreveu e dirigiu Star Trek II: The Wrath of Khan e Star Trek VI: The Undiscovered Country, também co-escrevendo Star Trek IV: The Voyage Home.

Seu estilo é a parte mais importante dos filmes da turma original de Star Trek, e The Wrath of Khan em especial é conhecido como um dos (se não o) melhor filme de toda a franquia. Meyer combina uma boa compreensão dos personagens de Star Trek com uma nova perspectiva. Seus filmes são muito agradáveis de assistir, mesmo sem conhecimento prévio da série original.

Ao privilegiar temas sobre família, sofrimento e políticas raciais, Meyer foi, indiscutivelmente, o primeiro a lançar um olhar crítico sobre a missão um tanto colonialista da Federação. Suas alterações contribuíram muito para a estética dos filmes originais, fazendo-os muito diferentes da série original da TV, e, em certa medida, a franquia como um todo. 

Falando a startrek.com em 2014, Meyer explicou suas opções narrativas:

Eu tive algumas ideias ao assistir os episódios e pensei: Bem, você sabe, esse cara [Kirk] nunca realmente teve que enfrentar uma derrota. Ele sempre meio que ganha. Então vamos colocá-lo em uma situação em que ele perde. E ver o que acontece. O resto foi sobre: eu não gosto desses cenários, eu não gosto desses figurinos. Eu quero que se pareça com um submarino. Eu quero que eles falem como se estivessem na Marinha. Coisas desse tipo. 

É claro, algumas vezes as mudanças de Meyer foram um pouco incongruentes com o resto da franquia e algumas vezes também o elenco e a equipe tiveram problemas com isso. 

Fazendo mudanças

Em The Undiscovered Country, Nichelle Nichols inicialmente discordou de Meyer sobre a cena em que Uhura tenta traduzir klingon uando vários livros e dicionários. Nichols apontou que seria improvável a Forta Estelar ainda utilizar livros impresso em pleno século 23.

Nichols não foi a única a não concordar com as mudanças de Meyer. Gene Roddenberry particularmente não gostava da crítica de Meyer sobre as relações raciais entre os seres humanos da Federação e os klingons. Meyer explicou seu confronto com Roddenberry ao LA Times em 2011:

A tripulação da Enterprise tem todo tipo de preconceito racial em relação aos klingons. Algumas de suas observações, incluindo como todos eles se parecem e como cheiram mal, e todas as coisas xenófobas a que se agarraram, foram profundamente ofensivas para Roddenberry, porque ele achava que não seria assim. De fato, em seu conceito original de Star Trek não havia qualquer conflito. 
Então, o que isso tudo pode significar para o novo show? Bem, claramente, Meyer tem suas próprias ideias, tais como crítica política e uma forte estética naval, que ele gosta de incorporar em suas criações para Jornada. Certamente, isto vai influenciar sua escrita na série de 2017.

Falando para craveonline.com em 2014, Meyer explicou a razão porque sentiu incongruentes os filmes do reboot:

Eu acho - e já fiz essa analogia -  que Star Trek é uma garrafa da qual diferentes épocas podem ser derramadas. Eu fiz um monte de mudanças, pois eu costumava dizer: "por que eles estão vestindo pijamas?" Mas não acho que mudei os personagens. Eu pensei que Kirk e Spock e aquelas pessoas eram quem elas eram. A maior coisa que me chocou foi Spock espancando alguém então pensei: "Isto está mudando a forma da garrafa".

Os recentes filmes de Star Trek não tiveram a melhor recepção entre os fãs, com muitas pessoas criticando Abrams por ele ter feito justamente o que Meyer descreveu: tentar fazer de Star Trek algo que Star Trek não é. Obviamente, quando se tratar do novo show, Meyer, Fuller e os outros roteiristas não estarão simplesmente emulando os personagens clássicos. Eles trarão uma nova história, o que na prática significa que ele terão que reinventar a franquia, mantendo a forma da "garrafa".

Meyer já comentou sobre o que podemos esperar da nova série, e o que ele disse ao site denofgeek.com é muito intrigante:

Eu acho que será um Star Trek diferente. E acho que isso é provavelmente bom, pois a única coisa que me me incomoda sobre Star Trek é o medo de ser uma paródia de si mesmo. Bryan tem ideias, algumas das quais já ouvi, que são inovadoras e diferentes. Diferente é o que me interessou. 
Isso se encaixa com o que conhecemos de Meyer, como ele sempre trouxe uma nova perspectiva para Star Trek. Mesmo indo adiante, que é o que o novo show deverá ser, é bom saber que Meyer também acredita em permanecer fiel à história de Jornada - a forma da garrafa - e criar algo que se sinta parte da franquia. 

2 comentários:

  1. espero realmente que não façam cagada e respeitem o espírito visionário de Gene e tudo aquilo que ele quis passar !

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Ok. Mas tem uma questão central aí, importantíssima: nem sempre as ideias de Roddenberry podem ser levadas ao pé da letra, pois narrativamente a ausência de conflitos é impraticável. Meyer demonstrou isso de maneira muito competente ao realizar modificações que considerou necessárias em Star Trek, embora nunca tenha descaracterizado os personagens, como fez J.J. Abrams.

      Excluir