Peço licença para falar de Arquivo X, mesmo sendo este blog um espaço para discussão sobre Star Trek. Mas é impossível deixar de comentar o retorno da série, que é objeto de minha adoração quase na mesma medida em que amo Jornada nas Estrelas.
Após 14 anos, The X-Files voltou em grande estilo. E mais que isso: com grande dignidade.
Os dois episódios exibidos nesta madrugada pela Fox Brasil transportaram os fãs de volta aos anos 90, quando todos acompanhavam apaixonados as aventuras dos agentes do FBI Fox Mulder e Dana Scully, rindo, sofrendo e querendo acreditar com eles.
A série não perdeu a sua essência e só cresceu com o passar do tempo. O uso de temas atuais, como drones, vigilância dos cidadãos por parte do governo através da internet e conspirações pós-11 de setembro, atualizaram a série de maneira a encantar novos e antigos admiradores, e é certamente um dos grandes trunfos do criador Chris Carter. O mundo mudou - e muito - desde que Arquivo X acabou. Hoje vivemos em rede, hiperconectados, em meio a uma guerra ao terror, muitas vezes querendo a proteção do governo, sem espaço para questionamentos. A volta de Arquivo X traz de novo as antigas inquietações conspiratórias: afinal, a verdade está lá fora, e não se pode confiar em ninguém.
Eu poderia dizer que a química entre David Duchovny e Gillian Anderson continua a mesma. Mas não estaria sendo justo. Ela melhorou - sim, quem pensava não ser possível isto se enganou: os dois nasceram para interpretar os agentes do projeto Arquivo X e fazem isso com cada vez mais maestria. São atores/personagens vinho.
Walter Skinner e o canhestro e redivivo Cigarette Smoking Man também deram as caras. Além deles, o elenco conta com novos nomes: a linda Annet Mahendru, interpretando uma vítima recorrente de abduções e Joel McHale, o dúbio Ted O'Malley, um apresentador de TV extremamente conservador, que ganha muito dinheiro explorando teorias conspiratórias.
A premissa do retorno da série é interessante. No primeiro episódio, intitulado "My struggle", O'Malley procura Mulder, com um caso para o Arquivo X. A partir disso, Scully e Mulder - que já não se veem há algum tempo - voltam à ativa, despertando antigos e perigosos inimigos. É a continuação da mitologia, com muitas e surpreendentes reviravoltas. E os aliens, obviamente, estão lá.
No segundo episódio, chamado "Founder's mutation", temos um misto dos clássicos episódios "monster of week", no entanto, relacionado às tramas mitológicas da série. Está tudo lá: os feixes de luz das lanternas dos agentes cruzando no escuro, mutações genéticas, telecinese e um grande e envolvente mistério. Há ainda momentos de pura ternura, em cenas que trazem à tona a questão de William, o grande trauma para Mulder e Scully, que foi abordado com rara beleza e sensibilidade. Tenho certeza que muitos chegaram às lágrimas assistindo estes momentos.
Há um detalhe saborosíssimo nesse revival de The X-Files: a abertura é a original. Ao longo das 9 temporadas a abertura sofreu pequenas alterações, basicamente na sua extensão. Mas nas duas últimas temporadas ela mudou bastante, com a inserção dos novos personagens. No entanto nunca foi a mesma coisa. A abertura original é mágica, transporta o telespectador instantaneamente para o universo Arquixo X. Por isso acredito que a opção em usar a abertura original tenha sido uma das grandes sacadas da nova produção. É de arrepiar.
Como um dos raros pontos negativos, eu poderia salientar a edição muito rápida, quase videoclípica, talvez uma espécie de ansiedade em mostrar muitas coisas, em recuperação ao tempo perdido. Afinal, 14 anos se passaram. Mas o brilho de ver Mulder e Scully em ação novamente é maior, e esses pequenos detalhes não passam então de... pequenos e insignificantes detalhes. Nada pode ofuscar o fato de que é muito gostoso vê-los novamente sentadinhos em frente ao diretor Skinner, uma cena familiar. Ou então perceber que Mulder já não usa mais o antiquado projetor de slides para introduzir Scully aos casos: agora usa uma grande tela, bem mais adequada. Pena que serão somente 6 episódios. Arquivo X tem muito fôlego, acredito que deveriam ter sido produzidos no mínimo o dobro de episódios.
Muito melhor que os filmes para o cinema, o retorno de Arquivo X à TV - afinal, seu formato original e mais funcional - escreve mais um capítulo glorioso dessa nova fase de ouro dos seriados que experimentamos atualmente. Evidentemente, nunca será como a série antiga. O mundo é outro Mulder e Scully são outros, nós somos outros. Mas, foi uma volta digna - à altura do legado da série e com autorreferência competente - que certamente criará uma nova geração de fãs.
Vida longa e próspera a Mulder e Scully. Continuamos querendo acreditar.
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